Machado de Assis e a (re)escrita de Oliver Twist
Resumo
No início de 1870, Machado de Assis traduziu parte do romance Oliver Twist,
de Charles Dickens (LÍSIAS, 2002). Mesmo inconclusa, dado que o escritor
brasileiro encerrou sua contribuição no capítulo vinte e oito, essa tradução apresenta
particularidades de grande interesse analítico. É especialmente notável a mediação
francesa no processo tradutório do romance dickensiano para o português, bem
como a manipulação da narrativa, que remodelou o romance (MASSA, 1965).
Estudos recentes abordaram a questão de modo limitado, principalmente por não
considerarem as implicações dos ajustes, sejam eles grandes ou pequenos,
promovidos por Machado. Em vista disso, este estudo tem o duplo objetivo de: a)
investigar o percurso de Oliver Twist até o Brasil, analisando a relação entre as
edições inglesas desse romance, a tradução francesa de Alfred Gérardin e a
brasileira de Machado de Assis; b) analisar em detalhe os procedimentos adotados
pelo escritor brasileiro ao traduzir o romance de Dickens, bem como discutir suas
implicações na estrutura narrativa. A (re)escrita de Oliver Twist teria implicado, por
assim dizer, um processo de seleção de repertório e reorganização formal da
narrativa, que responderia à especificidade do contexto de recepção do Brasil
oitocentista.