Práticas discursivas sobre o gaúcho em tempos de censura (1964-1969): um caso da imprensa escrita no Rio Grande do Sul
Abstract
Buscamos, nesta dissertação, compreender o funcionamento do discurso sobre o gaúcho na imprensa em tempos de censura. Da perspectiva da Análise de Discurso, iniciada nos trabalhos desenvolvidos pelo grupo de intelectuais em torno de Michel Pêcheux, na França, nosso estudo situa-se nos entremeios das bases constituídas além da relação mito/não-mito. As práticas do discurso jornalístico colaboram para a constituição de um efeito de estabilização dos sentidos sobre o gaúcho, na construção de referenciais para o processo de identificação desse sujeito. Tal efeito de estabilização permite nossa observação na interdição da inscrição do sujeito em determinadas formações discursivas em funcionamento desde a fundação do jornal (Zero Hora), em 1964, ano em que, no Brasil, via golpe de Estado, uma ditadura militar é instaurada. Efetuamos nossos recortes considerando cronologicamente o período que vai de 1964, ano do golpe, até 1969, primeiro ano após a instauração do ato institucional número 5 (ato institucional que ampliava e auxiliava os modelos‟ de repressão e tortura), salientando, porém, que essa linearidade não se aplica ao movimento dos sentidos. Tomando os processos discursivos como heterogêneos, realizamos um movimento que busca identificar pressupostos estabilizados no discurso jornalísticosobre o gaúcho, e, principalmente, desconstruir as evidências colocadas em circulação após o golpe de 64. A partir da análise dos recortes discursivos, na identificação das diferentes posições-sujeito que encontramos no textualizar‟ do discurso jornalístico, pudemos explicitar o funcionamento da ideologia nesse processo de significação. Dessa forma, ao atuar em um efeito de institucionalização dos sentidos, observamos que a imprensa colabora na manutenção de uma determinada ordem: a da imposição do mito do gaúcho, gaúcho
como sul rio-grandense, fechado em suas fronteiras e, com isso, também em seu sentido.