Opressão política e políticas da opressão: gênero, história e memória em Tropical sol da liberdade
Resumo
Publicada em um contexto pós-ditatorial, Tropical sol da liberdade (1988), da brasileira Ana Maria Machado, constrói seu enredo relacionado a esse período, apropriando-se da literatura como uma forma de resistência e de libertação, assumindo a própria voz/escrita como um espaço para a emersão de outras histórias a respeito desse passado, a partir da perspectiva de mulheres representativas da alteridade em sociedades patriarcais. Dentre os objetivos do estudo, estão a realização de análise literária, com o intuito de compreender o processo de apropriação da literatura para dar voz a experiências e perspectivas femininas sobre contextos ditatoriais; a reflexão sobre as possibilidades da literatura de autoria feminina como uma forma de empoderamento e de atuação política; e a contribuição para uma maior visibilidade de vozes literárias dissonantes, que mostram, em conjunturas pós-ditatoriais, outras versões, diferentes e em confronto com a história oficial ditatorial. Como procedimentos teórico-metodológicos, trabalha-se primeiramente com revisão bibliográfica sobre gênero, autoria feminina, literatura, história e memória, considerando a natureza interdisciplinar do tema. Para tanto, são mobilizados autores como Beauvoir (1967; 1970), Dorlin (2009), Eagleton (1978), Halbwachs (2004), Hollanda (1994), Irigaray (1992), Lauretis (1992), Moi (1988), Pizarro (2004) e Scott (1995). Além disso, busca-se conhecer o contexto histórico em que a narrativa está inserida, de forma a melhor entender a época e a temática desse estudo. Finalmente, a fim de compreender como a literatura pode contar outras versões da ditadura brasileira (1964-1985) a partir de óticas femininas, realiza-se a leitura de Tropical sol da liberdade com ferramentas conceituais advindas da teoria e da crítica feminista, procurando também articular o literário com elementos históricos, ideológicos, culturais e sociais. Na análise literária da obra de Ana Maria Machado abordam-se questões relacionadas às experiências, histórias e memórias de mulheres durante a ditadura civil-militar brasileira, com foco principalmente na protagonista, Lena, como mulher duplamente oprimida por suas ideologias políticas e por seu gênero e duplamente resistente. Também investiga-se a tentativa de reconstrução pós-traumática da personagem, através da escrita literária, bem como a apropriação da literatura para narrar outras experiências e outras perspectivas, constituindo-se como uma forma de questionamento, de resistência e de empoderamento feminino.