Perfil de citocinas pró- e anti-inflamatória e da proteína c-reativa no tratamento do tumor venéreo transmissível canino
Abstract
O tumor venéreo transmissível canino (TVTc) é um tumor único em vários aspectos,
sendo o principal, o fato de as células tumorais não serem originárias do animal acometido.
Resultados de pesquisas recentes demonstraram que o TVTc é um tumor transplantável que
surgiu em ancestrais do cão doméstico há aproximadamente 10000 anos. As células, que se
propagam principalmente pelo coito, se desenvolvem como um enxerto e apresentam a
capacidade de se implantar através de mecanismos de escape à resposta imunológica do
hospedeiro. Essa resposta envolve a imunidade celular e humoral e varia de acordo com fatores
não totalmente elucidados. Além do conhecido papel na resposta imune com o objetivo de
combater tumores, a resposta inflamatória desempenha um papel involuntário e paradoxal que
resulta na promoção do crescimento tumoral pela liberação de substâncias vasculogênicas, antiapoptóticas
e promotoras de crescimento celular. O fato de que os tumores possam se beneficiar
da resposta inflamatória torna necessárias pesquisas visando o desenvolvimento de terapias
direcionadas à modulação da resposta inflamatória para o controle do desenvolvimento tumoral.
Dessa forma, o objetivo deste estudo foi compreender melhor os mecanismos envolvidos no
desenvolvimento do tumor através da mensuração dos níveis das citocinas pró-inflamatórias (IL-
1, IL-6, TNF-α e INF-γ) e da anti-inflamatória (IL-10) e de uma proteína de fase aguda da
inflamação, a Proteína C-reativa (PCR) durante o tratamento de cães naturalmente infectados
pelo TVTc. A quantificação das citocinas e da PCR foi realizada no soro dos animais a partir de
amostras obtidas no diagnóstico e pré-terapia, imediatamente antes de cada nova aplicação
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quimioterápica e no momento em que o animal era considerado curado. A partir da resposta à
quimioterapia foram caracterizados grupos de animais de acordo com os tumores resistentes (R) e
não-resistentes (NR). Foi estabelecida a probabilidade de cura em relação ao tempo de terapia, de
acordo com o tipo de tumor. No grupo R, foi observada variação significativa em todos os
parâmetros, sendo a expressão das citocinas pró-inflamatórias e da PCR, mais elevadas e a
expressão da IL-10 inferior em relação à expressão observada em amostras dos animais do grupo
NR. No caso das citocinas pró-inflamatórias e da PCR, essa diferença se manteve até a cura dos
animais, diferindo da IL-10, cujas concentrações foram similares nos dois grupos ao final do
tratamento. A análise estatística realizada detectou a presença de correlações entre as variáveis,
demonstrando a participação das citocinas durante o processo de evolução tumoral. O papel da
inflamação no desenvolvimento do câncer foi postulado, apesar de os mecanismos moleculares
não terem sido elucidados, sabe-se que a inflamação crônica eleva a probabilidade do
desenvolvimento de tumores. Pelo fato de o TVTc ser um tumor de células estranhas ao
organismo, seu estudo é importante para verificar os mecanismos relacionados com a manutenção
e desenvolvimento dos tumores, bem como da resposta imune associada.