Psicoterapia de crianças em instituição pública de saúde: novas perspectivas a partir do olhar da criança
Resumo
Várias questões invadem a mente do terapeuta que se aventura no campo da psicoterapia com crianças, fazendo com que este reflita e busque conhecimentos que norteiem a sua prática. Neste sentido, o presente estudo teve como objetivo investigar a forma como crianças que estavam em atendimento psicológico em instituição pública de saúde, em atenção básica, representam a sua terapia e o seu terapeuta. Com este intuito, realizou-se um estudo qualitativo com a aplicação da técnica do desenho-estória. Participaram deste oito crianças com idade entre cinco e doze anos incompletos. Foi solicitado às crianças que realizassem uma sequência de três desenhos-estórias. A análise dos dados coletados foi feita através de análise de conteúdo. Os resultados são apresentados no formato de artigos cientificos. O primeiro artigo versa sobre a representação de psicoterapia e o segundo sobre a representação de psicoterapeuta. Os resultados do primeiro artigo evidenciam que as crianças vivenciaram a sua terapia enquanto um espaço onde elas puderam tanto brincar quanto falar sobre si. O destaque dado pelos infantes aos recursos lúdicos e ao conversar salienta a valorização destes enquanto dispositivos que as possibilitaram comunicar e trabalhar as suas questões. Além disto, o tratamento foi experienciado pelas crianças como um lugar destinado a estas realizarem mudanças com o intuito de alcançarem ganhos terapêuticos e melhorarem. Por sua vez, os resultados do segundo artigo apontam que as crianças têm uma representação de psicólogo enquanto alguém que brinca e conversa com elas. Para que o processo terapêutico se dê, foi valorizada a capacidade do profissional prover um ambiente confiável e amparador, no qual a criança se sinta segura para trazer as suas questões, sendo destacado nesse sentido o holding recebido ao longo do tratamento. As considerações finais destacam a possibilidade da implantação de serviços de qualidade em instituições públicas de saúde, uma vez que a psicoterapia foi vivenciada pelas crianças como a literatura aponta que ela deve ser independente do lugar em que ela se dá e das pessoas que ela atende.