Por detrás da fala: a comunicação de más notícias na perspectiva de médicos e familiares
Abstract
Comunicar más notícias no cenário hospitalar gera dificuldades para os profissionais que precisam realizar essa tarefa. Porém, igualmente, é um momento difícil e que altera a perspectiva do paciente e de seus familiares em relação ao seu futuro. Frente a este pressuposto, a pesquisa que originou a presente dissertação teve como objetivo geral compreender o processo de comunicação de más notícias no contexto da uma Unidade de Tratamento Intensivo para adultos, na perspectiva de médicos e familiares envolvidos na situação de internação. Trata-se de um estudo qualitativo, de cunho exploratório e descritivo, que abrangeu a totalidade de 23 participantes, sendo 12 médicos, atuantes na Unidade de Tratamento Intensivo de um hospital escola do interior do Rio Grande do Sul, e 11 familiares de pacientes internados nesta unidade. Foram entrevistados todos os médicos que trabalham na unidade, já o número de familiares participantes foi atingido mediante o critério de saturação da amostra. Foram utilizadas entrevistas semiestruturadas e observação não participante para a coleta das informações, que foram analisadas a partir da análise de conteúdo. As categorias procedentes da análise das informações foram descritas e discutidas em dois artigos, que compõem a essência do presente trabalho. Os resultados apontam que cada médico, busca, em concordância com seu estilo, uma forma de comunicar baseada em experiências pessoais e no senso comum. Tanto a falta de formação quanto a dificuldade de lidar com o sofrimento e a morte relacionam-se na dificuldade do médico em comunicar más notícias, trazendo a este a necessidade de excluir os sentimentos, oriundos da própria rotina hospitalar, através do uso de mecanismos voltados ao apaziguamento das emoções. Deve-se considerar, ainda, que o familiar se encontra em um momento de angústia, o que pode ocasionar dificuldades em compreender as informações passadas pelos médicos. Partindo destes apontamentos considera-se que, na relação médico/familiar, a comunicação ainda é mais técnica e prioriza esclarecimentos exclusivos da doença e do tratamento. Os médicos não se sentem preparados para comunicar e, principalmente, para escutar o sofrimento. Mas, se deve ponderar igualmente o quanto os familiares estão desassistidos.