Organização do trabalho e a mobilização subjetiva de trabalhadores de um centro de atenção psicossocial, álcool e drogas
Resumo
Este estudo objetivou compreender como a organização do trabalho afeta a mobilização
subjetiva dos trabalhadores de um Centro de Atenção Psicossocial, Álcool e Drogas em um
município da região central do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Pesquisa de abordagem
qualitativa, na qual se utilizou da Psicodinâmica do Trabalho e se desenvolveu a partir da
Clínica Psicodinâmica do Trabalho segundo aplicação dos dispositivos clínicos e das
condições para sua condução. Foram realizadas quatro sessões grupais com dezesseis
trabalhadores de nível fundamental, médio e superior de um Centro de Atenção Psicossocial,
Álcool e Drogas, no período de abril a maio de 2014. Para a interpretação dos achados
utilizou-se a Análise de Conteúdo. Os resultados foram organizados em três eixos:
organização do trabalho, mobilização subjetiva e sofrimento, defesas e patologia e discutidos
à luz da Psicodinâmica do Trabalho. Verificou-se que diante de uma organização do trabalho
burocrática e desinteressada pela história pessoal, profissional e pelo desejo dos trabalhadores,
os mesmos criaram estratégias de enfrentamento, como o investimento na formação e o apoio
entre si. Utilizam sua inteligência prática para se proteger do sofrimento e estratégias de
resistência à inflexibilidade da organização. Os espaços de discussão contribuem para
diminuir a angústia, amenizar e suportar o desgaste do trabalhador. A cooperação, que se
traduz em relações solidárias, é fundamental para o trabalho em um Centro de Atenção
Psicossocial. Por meio dela obtêm-se vivências de prazer; mas também, foi instituída como
regra de trabalho e tornou-se rígida e excludente. Os trabalhadores não se sentem valorizados
e apoiados pelos superiores hierárquicos em aspectos que dão sentido ao seu trabalho. Isto
produz implicações à construção da identidade e ao engajamento da atividade que realizam.
Utilizam estratégias defensivas frente a situações em que não obtêm reconhecimento.
Conclui-se que há falta de espaços de análise sobre o trabalho, o que conduz os trabalhadores
a negarem a realidade. O uso da inteligência prática, da cooperação e do espaço de discussão
para ressignificar as vivências de sofrimento, não tem sido suficientes para transformá-lo em
prazer. Desta forma, as estratégias de defesa tem se sobreposto mobilização subjetiva.