O ritual de visitação ao cemitério, sentidos e significados: um estudo qualitativo na região Sul do Brasil
Abstract
Os ritos estão presentes em muitas fases de transição da vida humana e não é diferente na passagem da vida para a morte. No que se refere à morte, o homem vem modificando sua forma de se relacionar com ela, principalmente quando se fala de cuidar e enterrar seus mortos. Este estudo tem por finalidade compreender o significado da visitação a um cemitério para pessoas com entes queridos enterrados no mesmo. Trata-se de um estudo qualitativo com nove participantes que haviam perdido alguém próximo. O número de participantes foi atingido mediante o critério de saturação de amostra. Foram realizadas entrevistas semidirigidas e observações de campo, analisadas pelo método de análise de conteúdo. Os resultados apontam que as visitas despertam vários sentimentos, como a possibilidade de estender o cuidado para depois da morte ou até mesmo a culpa quando as visitas não são possíveis por algum motivo. Há a crença na existência da comunicação entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos e no espaço do cemitério como um local de estender a vida através da evocação de memórias e lembranças. Também observou-se o espaço do Cemitério Parque como um local que não se parece com um cemitério, por refletir a beleza e a vida, não sendo percebida a morte. Em contrapartida, o cemitério tradicional é visto como um lugar pesado e que remete à morte. Tais resultados evidenciaram o quanto, na contemporaneidade, prima-se pela praticidade, segurança e beleza, destacando-se, assim, a crescente terceirização do cuidado através do mercado funerário. Além disso, é possível inferir que, socialmente, procura-se banir a morte e o quanto novos espaços e serviços vêm correspondendo e consolidando a essa demanda social. Desta forma, é necessário que se reflita mais sobre os rituais na morte, destacando a área da Psicologia, que carece de publicações deste tema.