Um olhar sobre a presença da morte no cotidiano de trabalho dos policiais militares
Resumo
Pensar sobre a morte remete, inevitavelmente a pensar sobre a vida. Discorrer sobre os entrelaçamentos que ambas produzem ao longo do desenvolvimento humano, mobiliza sentimentos de angústia e dúvidas. Isso acontece, pois o ser humano tem como peculiaridade, o ímpeto de buscar formas de explicar, combater ou vencer as adversidades que surgem ao longo da vida e, nesse contexto, o desconhecido é disparador de inquietação. Os Policiais Militares (PMs) lidam com a morte no exercício diário da profissão, principalmente aqueles que atuam no policiamento ostensivo, podendo vivenciar a morte de outrem ou a própria a qualquer momento. Este estudo objetivou conhecer as representações sociais de grupos de Policiais Militares acerca da presença da morte no seu cotidiano de trabalho. Tratou-se de um estudo qualitativo, de cunho exploratório, do qual participaram 26 policiais que atuam na Polícia Rodoviária Estadual e no Pelotão de Operações Especiais, ambas pertencentes a uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sendo realizados quatro (04) encontros de grupos focais, com eixos norteadores pertinentes à temática adotada. A análise dos resultados, discutida com a Teoria das Representações Sociais, apontou categorias que demonstram a importância dos efeitos observados na ação diária perante o encontro com a morte; a agressão percebida diante do julgamento da sociedade; o momento em que a morte se torna escancarada e a representação da morte, que parte do momento do impacto até o movimento reflexivo sobre o tema. Destacou-se a naturalização da morte, por parte do grupo de policiais, como mecanismo utilizado para se proteger e lidar com a finitude escancarada no ambiente de trabalho. Os momentos de fala e escuta criados, facilitaram a abertura das defesas psíquicas e permitiram refletir sobre os temores, tão intensamente denunciados através de contradições. Tais discussões enfatizam a importância de disponibilizar dispositivos de aproximação da instituição militar ao processo de escuta, com vistas a observar as questões suscitadas pelo trabalho policial, mobilizando reflexão sobre o processo de morte e os enfrentamentos diários decorrentes de seu fazer profissional.