Respostas bioquímicas em carpas (Cyprinus carpio) expostas ao fungicida tebuconazole (folicur® 200 ec)
Resumo
O intenso uso e/ou manejo inadequado de pesticidas têm levado à contaminação do ecossistema aquático, atingindo a biota ali existente, incluindo os peixes. Pesticidas podem afetar parâmetros toxicológicos desses animais, prejudicando sua sobrevivência. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi avaliar alterações bioquímicas em carpas (Cyprinus carpio) após exposição a uma formulação comercial do fungicida tebuconazole (Folicur®). Num primeiro momento, foi realizado um teste de toxicidade aguda a fim de determinar a CL50 (96h) do tebuconazole para C. carpio. Os animais foram expostos às concentrações 1,0, 1,5, 2,0, 2,5 e 3,0 mg/L, durante 96 horas. Após esse período, foram anestesiados e eutanasiados. Utilizando o método whole-body, foram investigados os níveis de TBARS, proteína carbonil, atividades das enzimas GST, CAT, SOD e AChE, níveis dos antioxidantes não enzimáticos GSH e AsA e parâmetros metabólicos, dentre os quais, lactato, glicogênio, glicose, amônia, aminoácidos e proteína. Num segundo momento, os peixes foram expostos ao fungicida durante sete dias, tanto em condição de campo (lavoura de arroz irrigado) como de laboratório. As concentrações utilizadas em laboratório (33,5 e 36,2 μg/L) foram próximas à concentração utilizada na lavoura de arroz (31,9 μg/L). Decorridos os períodos experimentais, foram amostrados cérebro, fígado e músculo dos peixes. Os parâmetros bioquímicos analisados foram os seguintes: níveis de TBARS em cérebro, fígado e músculo; proteína carbonil em fígado; atividades das enzimas CAT e GST em fígado e da AChE em cérebro e músculo. No primeiro experimento obteve-se como CL50 (96h) do tebuconazole para C. carpio a concentração 2,37 mg/L. Os níveis corporais de TBARS mostraram-se elevados em todas as concentrações testadas. Ao contrário, as enzimas GST, CAT e SOD mostraram redução em suas atividades. Os níveis de GSH e AsA também se mostraram diminuídos após o mesmo período. Em relação à atividade da AChE e aos níveis de proteína carbonil, não foram observadas alterações estatisticamente significativas. Dentre os parâmetros metabólicos, houve aumento nos níveis de glicogênio e glicose na concentração 1,5 mg/L, enquanto que os níveis de proteína foram reduzidos nas concentrações 2,0 e 2,5 mg/L. No segundo experimento, observou-se aumento nos níveis de TBARS em cérebro somente na condição de campo, enquanto que em fígado e músculo esse aumento foi verificado tanto em campo quanto em laboratório. Da mesma forma, os níveis de proteína carbonil aumentaram em ambas as condições experimentais. A atividade da AChE em cérebro se mostrou aumentada somente em condição de campo, enquanto que em laboratório nenhuma alteração significativa foi observada. As atividades da CAT, GST e AChE em músculo não apresentaram mudanças significativas em ambas as condições experimentais. Os resultados da presente investigação, considerando os dois experimentos realizados, mostram que esse fungicida provoca desordens em parâmetros antioxidantes e metabólicos nos peixes expostos, indicando a ocorrência de estresse oxidativo, o que pode comprometer sua sobrevivência no meio natural. A avaliação dos níveis de TBARS e de proteína carbonil em fígado de carpas pode ser utilizada como biomarcador de exposição ao tebuconazole.