Chico Buarque no contexto da doutrina de segurança nacional
Resumen
Nas décadas de 1960 a 1980 vivia-se o contexto mundial da Guerra Fria, e com ela os esforços de grande parte dos países ocidentais dirigiam-se, orientados pela Doutrina de Segurança Nacional, para o combate ao comunismo. A variante brasileira desta Doutrina foi construída pela colaboração de Golbery do Couto e Silva e órgãos como a Escola Superior de Guerra, dando suporte à formatação do Estado de Segurança Nacional no período de 1964-1985. Entendeu-se que a ação comunista poderia atingir a sociedade por diversos meios, como através da música, sendo necessário para a manutenção da segurança interna a edição de uma vasta gama de ações coercitivas e disciplinadoras, onde destacamos a censura. Assim, o presente trabalho objetiva compreender as razões que levaram o Estado a executar a censura sobre parte da obra do compositor Chico Buarque e, desta forma, entender o pensamento político estatal, paralelo e oposto ao pensamento político de Chico Buarque. Este se constituiria no contraponto ao autoritarismo, tornando-se o compositor importante ator político e sua obra representativa de uma micropolítica avessa aos arbítrios do Estado. Chico Buarque, gradativamente, tomaria forma como um perigoso subversivo, pois a reinterpretação dos versos de suas canções ganhavam um contorno político indesejado pelas elites dirigentes de então. A análise de suas canções combinada à legislação proibitiva da época explicita o porque da censura em parte da obra buarqueana, considerada subversiva pelos parâmetros da Doutrina de Segurança Nacional.