A constituição do eu narrativo e figural na temporalidade complexa de Lobo Antunes
Resumo
“A constituição do eu narrativo e figural na temporalidade complexa de Lobo Antunes” tem como objeto de estudo o romance Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? (2009), do escritor português contemporâneo António Lobo Antunes. No romance, é narrada a história de desestruturação afetiva e de perda dos bens materiais de uma tradicional família portuguesa, através das vozes dos componentes dessa família. Confundem-se na narrativa, então, as vivências passadas das personagens e as suas projeções para o futuro. As personagens-narradoras, ao relembrar as experiências do passado e ao projetar expectativas para o futuro, desfocam o presente da narrativa em reflexões que parecem não encerrar conclusão alguma sobre suas vivências. Resulta disso um mundo caótico e amargo, marcado pelos múltiplos e contraditórios afetos das personagens em relação aos seus familiares, manifestado na própria estrutura da narrativa, com suas ramificações, desvios e fragmentações. A configuração da intriga acaba por evidenciar, então, o caráter conflitante, problemático das próprias personagens. Esse retorno incessante ao passado aliado a essa expectativa do futuro e às reflexões sobre os eventos reconstroem esses momentos distintos da experiência do tempo em um tempo presente sempre distendido, em transição. O romance parece reconstituir certa aporia do tempo, visto que os tempos mostram-se como marcantes na consciência das personagens e, paradoxalmente, como fluidos e transitórios. Esse caráter denso e complexo da temporalidade na configuração da narrativa, o entrelaçamento entre presente contado, passado relembrado e de um futuro esperado confere uma densidade psicológica às personagens, sem nunca atribuir-lhes uma identidade estável e coesa e uma imagem íntegra. Encontra-se nessa dissertação, uma reflexão sobre a literatura portuguesa contemporânea, a obra do autor, e uma análise do romance com base, principalmente, nos estudos de Paul Ricoeur sobre a interdependência entre a configuração da intriga, a temporalidade e a constituição de uma identidade narrativa.
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