Associação da condição social e clínica à capacidade para alimentar crianças verticalmente expostas ao HIV
Abstract
Crianças verticalmente expostas ao HIV demandam cuidados relacionados à profilaxia, ao acompanhamento em serviço especializado e a alimentação e nutrição, considerando a recomendação nacional de não amamentação. O leite materno é uma das intervenções mais importantes para reduzir o risco de mortalidade infantil, em contrapartida, mulheres soropositivas são desaconselhadas a amamentar pela possibilidade de transmissão do HIV. Reconhecendo a dependência da criança aos cuidados providos pela família, foi desenvolvida uma pesquisa com o objetivo de avaliar a capacidade familiar para alimentá-las. Estudo transversal, realizado com cuidadores de crianças nascidas expostas ao HIV, de até 18 meses de idade, acompanhadas em serviço de especializado do sul do Brasil. Coleta dos dados desenvolvida entre fevereiro de 2016 a março de 2017. Utilizando instrumento de caracterização socioeconômica e demográfica de mães e crianças, além da Escala de Avaliação da Capacidade para Cuidar de Crianças Expostas ao HIV, composta por cinco dimensões das quais, foram utilizadas a II (preparar e administrar alimentação láctea) e a III (alimentação complementar). Para análise as variáveis foram descritas por distribuição absoluta e relativa, e para a associação destas com os níveis de capacidade utilizou-se os testes qui-quadrado de Pearson e Exato de Fisher, ao nível de significância de 5%. Quanto à qualidade das informações disponíveis nas fichas de notificação do SINAN e prontuários, identificou-se maior ocorrência de incompletude relacionada aos fatores de prevenção da transmissão vertical. Quanto à caracterização do perfil social e clínico de gestantes infectadas, a análise dos dados aponta faixa etária de adultas jovens, escolaridade baixa e ocupação não remunerada. A maioria das mães realizou o acompanhamento pré-natal (82,8%) com adesão ao tratamento (80%), conforme as medidas profiláticas recomendadas nacionalmente. Foi evidenciada alta capacidade global para alimentar (76,6%), para alimentação láctea (85,0%) e alimentação complementar (65%). Para a alimentação láctea, influenciaram na maior possibilidade do cuidador ter alta capacidade: acessar a unidade básica (p=0,033), apresentar outros filhos expostos ao HIV (p=0,013), manter o acompanhamento no serviço de saúde (p=0,048) e não consumir álcool (p=0,045). Enquanto residir em zona periurbana (p=0,002) indicou capacidade moderada. Para a alimentação complementar, quanto maior a escolaridade (p=0,025), o número de consultas agendadas para a criança (p=0,045), ela estar em acompanhamento no serviço de saúde (p=0,035) e acessar a unidade básica (p=0,014) estiveram relacionados com a capacidade alta. Identifica-se o comprometimento da qualidade da atenção à saúde direcionada a essa população, majoritariamente, exposta às condições sociais desfavoráveis. Os fatores sociais e clínicos dos cuidadores podem ter influência no cuidado prestado a criança. Para garantir uma alimentação adequada diante da exposição ao HIV, torna-se necessário que os serviços de saúde estejam aptos a considerar no delineamento das orientações as realidades locais e socioculturais nas quais as famílias estão inseridas.
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