Valores da economia solidária e suas implicações no estabecimento dos vínculos organizacionais e sociais
Resumo
Este estudo tem por objetivo geral analisar as relações entre os valores atribuídos à economia solidária e o estabelecimento dos vínculos organizacionais e sociais na perspectiva dos trabalhadores de empreendimentos econômicos solidários. Assim, foi realizada uma pesquisa subdividida em duas fases, a primeira de abordagem quantitativa, natureza conclusiva descritiva e exploratória por meio do método de levantamento survey a partir da aplicação da Escala de Valores da Economia Solidária (EVES) de Guerra (2014), Medida de Comprometimento Organizacional (MCO) de Bastos e Aguiar (2015) e Medida de Entrincheiramento Organizacional (MEO) de Rodrigues e Bastos (2015) com análise dos dados por frequência, estatísticas descritivas, análise fatorial exploratória, correlação de Pearson e análise de Clusters. A segunda fase da pesquisa foi de abordagem qualitativa, método de estudo de caso único integrado cujos dados foram coletados por roteiro de entrevista semi-estruturado baseado nas categorias dos tipos de vínculos sociais propostos por Gaiger (2016) com análise de conteúdo dos relatos. Os resultados encontrados indicaram respondentes com altos níveis de identificação com a maioria dos valores da economia solidária, exceto cidadania, e comprometimento organizacional seguido de médio e baixo nível nas dimensões do entrincheiramento organizacional. A adesão aos valores de qualidade de vida e identificação, cidadania e solidariedade e autogestão da economia solidária corrobora positivamente para o vínculo de comprometimento organizacional. Já o valor de cidadania apresentou associação negativa com a limitação de alternativas. Os vínculos sociais encontrados tendem a configurar-se como do tipo grupal, formados por laços de identidade fusionais, relações econômicas de cooperação, princípio econômico de reciprocidade e formas de solidariedade classista e familiar. Os achados na fase qualitativa permitiram esclarecer alguns apontamentos da fase quantitativa. Assim concluiu-se que quando o comprometimento destaca-se junto com a autogestão o senso de responsabilidade coletiva pela gestão se fortalece superando motivações que se limitem a realização e satisfação individual com o trabalho. A passividade dos trabalhadores em relação à atuação na comunidade local pela participação social e política, encontrada na fase quantitativa, pode estar ligada a compreensão do que vem a ser a solidariedade. Portanto, a identificação com os valores da economia solidária é um processo contínuo de construção que perpassa as subjetividades individuais e efetiva-se na vivência da coletividade. As limitações dessa pesquisa se encontram na recente aplicação da escala de valores da economia solidária (EVES) bem como em sua associação à mensuração dos vínculos de comprometimento e entrincheiramento organizacional no contexto da economia solidária. Para pesquisas futuras sugere-se a continuidade da discussão acerca dos vínculos do trabalhador com os empreendimentos econômicos solidários, sejam organizacionais e/ou sociais, de forma a atender aos pressupostos que norteiam tais organizações.
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