Homossexualidades na territorialidade tradicionalista gaúcha
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2017-08-22Metadatos
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O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) surge na década de 1940, na cidade de Porto Alegre
(RS), com o intuito de, por meio de manifestações culturais, propagar as práticas cotidianas da vida
campeira dos antigos habitantes do Rio Grande do Sul. O tradicionalismo logo se alastrou para além
da sua primeira entidade, apresentando, na atualidade, Centros de Tradições Gaúchas (CTG) por
toda a extensão do território nacional. Suas manifestações prezam pela reprodução do cotidiano das
antigas famílias gaúchas, logo, uma composição heteronormativa, que propaga consequentemente
ideais conservadores e machistas em suas espacialidades. O autor deste trabalho é homossexual e
também participou de entidades tradicionalistas durante parte de sua vida, notando discursos
machistas e homofóbicos vindos de seus pares durante esse tempo, o que despertou no pesquisador
a curiosidade perante tal paradoxo. Para tanto, o presente trabalho tem o interesse de compreender
como se manifestam as homossexualidades dos sujeitos gays, enquanto integram o tradicionalismo
gaúcho. Utilizando-se da categoria de análise geográfica do território (SACK, 1986; BONNEMAISON,
2002; RAFFESTIN, 1993), buscou-se relacioná-la com o tradicionalismo gaúcho e,
consequentemente, com o Movimento Tradicionalista Gaúcho. Assim, considerou-se o MTG como
uma territorialidade e os Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) e seus eventos, territórios. A
compreensão de tais territórios deu-se pela maneira identitária (CLAVAL, 1999), sendo, portanto, os
territórios tradicionalistas núcleos difusores de concepções identitárias conservadoras, machistas e
heteronormativas. À medida que se observa homossexuais em espaços do tradicionalismo gaúcho,
nota-se que tal identidade tradicionalista, assim como as demais identidades, não são homogêneas,
permitindo intersecções de diferentes identidades (WOODWARD, 2014). Tendo em vista a
participação da identidade homossexual neste trabalho, nota-se as suas territorializações sociais,
buscando-se identificá-las, se possível, nas margens dos territórios tradicionalistas, contrariando a
hegemonia conservadora em suas porções centrais. Dessa forma, buscando visibilizar tal grupo
socialmente marginalizado, busca-se amparo teórico para o ramo geográfico da Geografia Feminista
e Queer (SILVA, 2009), a qual apresenta posições similares ao ramo da pós-fenomenologia
(MARANDOLA JR., 2013) o qual amplia os estudos de base fenomenológica, permitindo perceber o
sujeito enquanto fruto do meio em que se habita sendo, portanto, construído discursivamente
(BUTLER, 2008). Para tanto, tendo em mente observar a realidade homossexual no interior do meio
tradicionalista, entrevistou-se doze sujeitos, utilizando-se entrevistas por pauta para se coletar os
dados para a pesquisa. Como meio de interpretação das entrevistas usa-se a Análise do Discurso
(ORLANDI, 2012; PÊCHEUX, 1997) para analisar o corpus coletado, buscando-se compreender suas
marcas sociais e posicionalidades identitárias. Assim sendo pode-se concluir que a maioria dos
entrevistados, mesmo sendo homossexuais, tem práticas discursivas concordantes com o
tradicionalismo, ou seja, posições que apontam para discursos machistas, heteronormativos e
homofóbicos em suas falas, possível motivo pelo qual permaneçam inseridos nos territórios
tradicionalistas. Todavia, também se percebem configurações centro-marginais (SILVA, 2007) nos
territórios relatados, assegurando a presença de microterritorializações homoeróticas (COSTA, 2012)
nas margens da territorialidade tradicionalista gaúcha, em contraste com seu centro conservador;
assim como, se notam sujeitos que rompem com os acordos preestabelecidos pelo tradicionalismo,
manifestando sua sexualidade até que sejam convidados a readequar seu comportamento.
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