A (orto)grafia na produção de efeitos de sentidos em discurso sobre a língua
Resumo
Neste trabalho, propomos uma reflexão acerca de uma (orto)grafia, pontuada como um objeto
simbólico que (re)produz efeitos de sentidos significando por/para sujeitos em suas produções
escritas e orais. Para tanto, presumimos, como ponto de partida e tema gerador, analisar como
se dá a formulação da noção de ortografia. Desse modo, constituímos um arquivo composto
por documentos que abordam a questão ortográfica, compreendidos entre textos portugueses
e leis brasileiras, datados desde o século XV até o início do século XXI. Com base na leitura
desse arquivo, selecionamos “Bases da Ortografia Portuguesa” (Viana & Abreu, 1885), por
inaugurar um debate a respeito da reforma ortográfica estabelecido em um discurso que
manifesta uma noção de Língua em processo de legitimação. Nesse percurso de análise,
recorremos a diversas vozes autorais, especialmente para explicitarmos os efeitos de sentidos
e funcionamentos da escrita, visto que depreendemos uma implicação entre escrita e
ortografia, sendo a primeira ponderada como princípio e fonte de observação da segunda. Esta
pesquisa filia-se a duas teorias: a Análise de Discurso Francesa, que propõe uma interlocução
entre a Psicanálise, o Materialismo Histórico e a Linguística – por meio dela, propomos um
olhar sobre o processo discursivo; e a História das Ideias Linguísticas, que se estabelece como
o campo do saber que mobiliza um estudo da história da constituição linguística – essa
perspectiva nos dá subsídios para a discussão da produção de uma escrita para a língua no
Brasil, fato esse que resulta na instituição da Língua Nacional Brasileira, ressoando em efeitos
de sentidos na ortografia. Guiando-nos por noções como Formação Discursiva, Condições de
Produção, Historicidade, Paráfrase, Memória, entre outras, investimos em um gesto analítico
no referido documento, buscando compreender como se dá a noção de ortografia, para
investigarmos os efeitos de sentidos dessa em relação à (orto)grafia. Temos, então, que a
ortografia fora formulada em um discurso reformista que, almejando a união dos sujeitos e da
nação, se justificava pela defesa de um padrão para a língua pela forma escrita, o que
asseguraria a exclusão da divisão dos sujeitos. No entanto, apontamos um efeito de sentido de
hierarquização dos sujeitos ao significarem por meio da (orto)grafia. Ao mesmo tempo em que
se buscava o controle, por parte de Portugal, ainda que ilusório, da Língua, notamos a
crescente independência linguística das colônias, especialmente do Brasil, pelo
desenvolvimento de gramáticas e dicionários. Ademais, comumente relacionada ao bem
escrever e ao correto, a ortografia rompe, no objeto, em uma formulação que propõe
implicação com a Língua – conceituada pelo viés científico –, assumindo, portanto, um caráter
que possibilita a produção do conhecimento. Por fim, referimo-nos à (orto)grafia como parte de
uma política capaz de constituir e de dividir os sujeitos e, no tocante à ortografia, como aquela
que instaura uma outra divisão, a da língua, posto que a noção de língua, a qual nos filiamos,
permite constatar não só uma construção inscrita na norma, mas também uma elaboração a
partir do uso.
Coleções
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