Efeitos neurocomportamentais da taurina em modelos de exposição ao etanol e de crise convulsiva em peixe-zebra
Resumo
O uso de modelos translacionais alternativos vem sendo amplamente utilizado na
neurociência para o estudo de diversas doenças neurológicas e neuropsiquiátricas. Nesse
contexto, o peixe-zebra (Danio rerio) ganha grande destaque uma vez que possui alta
similaridade genética com seres humanos e permite a triagem de novos agentes
farmacológicos de forma bastante eficiente. Assim, o objetivo do nosso primeiro trabalho
foi avaliar as perspectivas do uso do peixe-zebra como organismo modelo a fim de
posteriormente utilizá-lo para a avaliação do potencial protetor da taurina (TAU) em
diferentes situações. A TAU é uma molécula que desempenha funções fisiológicas
essenciais nos seres vivos, tais como neuromodulação, atividade antioxidante,
osmoregulação e estabilização de membrana. Sua ação neuromoduladora ocorre
principalmente através de sua ação agonista em receptor GABAA e de glicina. Diversas
drogas são capazes de alterar a funcionalidade de receptores GABAA e modificar o
balanço das sinapses inibitórias/excitatórias, tais como o etanol (EtOH) e o
pentilenotetrazol (PTZ). Portanto, no segundo e no terceiro trabalho tivemos por objetivo
analisar o papel da TAU sobre as alterações na agressividade, no comportamento social
e na avaliação de risco induzidas pelo EtOH. Os animais foram expostos por 1 hora e
divididos em 8 grupos: Controle; TAU 42 mg/L; TAU 150 mg/L; TAU 400 mg/L; EtOH
0,25% (v/v); TAU 42/EtOH; TAU 150/EtOH e TAU 400/EtOH. Posteriormente, os
animais foram submetidos ao teste de agressividade, comportamento em cardume,
preferência social e ao teste do predador. De modo geral, a TAU apresentou um efeito
bifásico no comportamento agressivo, onde a menor e a maior concentração testada (42
e 400 mg/L) modularam positivamente a agressão, enquanto que 150 mg/L exerceu uma
ação anti-agressiva. Além disso, análise temporal do comportamento em cardume
mostrou que EtOH sozinho e associado à TAU apresentam uma redução do
comportamento social. No entanto, no teste de preferência social somente TAU
400/EtOH reduziram a preferência por coespecíficos. Em relação ao comportamento
aversivo do peixe-zebra, TAU per se e em associação diminuiu as avaliações de risco na
área do predador. Por fim, avaliamos o papel protetor da TAU frente às crises convulsivas
induzidas pelo PTZ através da análise dos estágios de crise convulsiva, bem como dos
parâmetros relacionados ao estresse oxidativo. Os peixes foram pré-tratados com TAU
(42, 150 ou 400 mg/L) por 40 minutos e então expostos ao PTZ por 20 minutos, onde os
escores de crise convulsiva foram analisados a cada 30 segundos durante a exposição e a
intensidade da crise convulsiva mensurada. Para a análise de estresse oxidativo, os
seguintes parâmetros foram quantificados: atividade das enzimas CAT, SOD e GST
cerebral,níveis de peroxidação lipídica, carbonilação de proteínas, viabilidade e morte
celular. Os resultados mostraram que a TAU 150 mg/L atenuou as crises convulsivas
induzidas pelo PTZ, diminuindo a intensidade das crises convulsivas e prevenindo o dano
oxidativo. Assim, a TAU é capaz de modular diferentes respostas neuroquímicas e
comportamentais dependendo da concentração, sugerindo um complexo efeito da TAU
em diferentes receptores e/ou em vias de transdução de sinal no SNC.
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