Endividamento e gasto privado: uma abordagem aplicada pós-Keynesiana para o Brasil (2005-2017)
Resumo
O começo do terceiro milênio trouxe consigo uma crise financeira global de implicações múltiplas para as economias e para o sistema financeiro internacional. Com o colapso, veio novamente a dúvida sobre os mecanismos de funcionamento de uma economia monetária de produção que, relacionados à atuação da moeda e à importância do crédito e do financiamento para o gasto de famílias e firmas, como os instrumentos financeiros evoluíram desde o século XX até o presente, gestando processos de possível instabilidade financeira. O presente trabalho utiliza de uma abordagem pós-keynesiana moderna baseada na norma ―New Cambridge‖, de modelagem aplicada consistente entre estoques e fluxos, que tenta identificar como o descompasso, ao longo do tempo, entre o setor real e o setor financeiro de uma economia é uma importante causa para como o sistema econômico moderno gesta endogenamente a instabilidade financeira. Através de uma modelagem econométrica de séries temporais, que utilizou dados para a economia brasileira trimestralmente entre 2005 e 2017, os resultados demonstram que neste período existiu uma tendência das famílias no Brasil a consumirem mais pela via do endividamento, do que propriamente pela renda disponível. Apesar de o financiamento ser um elemento chave de uma economia monetária de produção moderna, a abordagem ―New Cambridge‖ auxilia no alerta de que, não só processos financeiros insustentáveis podem aparecer em uma economia, mas são persistentes e podem levar um longo tempo de ajuste para serem superados – relegando a economia de uma trajetória mais sustentada de crescimento. Com isso, existe um direcionamento de recursos para o sistema financeiro em detrimento do setor produtivo no Brasil, pela piora da posição financeira de famílias e firmas, a alta carga de dívida mobiliária do governo por causa dos títulos da dívida, e as formas de captação de recursos externos, ainda que não representem um cenário de vulnerabilidade externa, são fortemente baseados em financiamento e em investimento direto estrangeiro que não se reinveste internamente, traduzindo-se em remessas de lucros. À luz da Abordagem ―New Cambridge‖, os três Balanços Financeiros brasileiros apresentam, portanto, potencial de instabilidade financeira, restringindo o crescimento econômico pelo período de ajuste das unidades financeiras, além de ser capaz de gestar crises futuramente.
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