Variação ecogeográfica e funcional do crânio de Tayassuidae (Mammalia: Artiodactyla)
Resumo
Compreender os mecanismos determinantes e os papéis funcionais da variação fenotípica tem sido um tema central da ecogeografia e evolução. Tayassuídeos são excelentes modelos para testar hipóteses ecogeográficas e funcionais dada a extensa distribuição geográfica ao norte e sul do Equador de duas das três espécies atuais e a evolução de algumas características craniais que pressupõe altas performances biomecânicas. Nessa tese nós utilizamos procedimentos de morfometria geométrica e análises de variância uni e multivariadas para descrever a variação geográfica na forma e tamanho do crânio de Pecari tajacu e Tayassu pecari e testar a influência de fatores ambientais, alométricos e espaciais. Nós também investigamos se a forma do crânio das três espécies atuais reflete seus atributos biomecânicos. No primeiro capítulo, obtivemos a forma do crânio para 294 espécimes de P. tajacu e T. pecari de 134 diferentes localidades na America do Sul. Utilizando Partial Least Squares e análises de partição de variância nós quantificamos o relacionamento entre a forma e fatores ambientais, espaciais e alométricos. Nossos resultados revelaram padrões de variação geográfica na forma do crânio de ambas as espécies, mas a forma de T. pecari é mais conservativa. O ambiente explicou a maior parte da variação, enquanto um fraco efeito alométrico e da autocorrelação espacial foi encontrado apenas em P. tajacu. No segundo capítulo, nós testamos a variaçao geográfica no tramanho de 426 espécimes destes dois tayassuídeos provenientes de 174 localidades diferentes ao sul do equador e 83 ao norte. Nós testamos o efeito da latitude, temperatura sazonal, precipitação e influência humana no tamanho do crânio com Generalized Least Squares incluindo estruturas de autocorrelação espacial. Diferenças de tamanho em regiões de simpatria e alopatria foram exploradas com modelos de ANOVA. Nós encontramos um padrão latitudinal no tamanho do crânio de P. tajacu e T. pecari inverso a Regra de Bergmann. O tamanho foi positivamente associado à precipitação oferecendo suporte à disponibilidade de recursos como um importante fator selecionando maiores tamanhos corporais em baixas latitudes, especialmente para T. pecari. A influência humana afeta negativamente o tamanho das espécies no hemisfério sul. As distribuições de tamanho corporal, em grande parte não sobrepostas, sugerem que as diferenças de tamanho podem ser necessárias para a sobreposição simpátrica dessas espécies. No capitulo 3, combinamos análises de morfometria geométrica e modelos biomecânicos e obtivemos a forma craniomandibular e o tamanho do centróide de 213 espécimes e estimamos força de mordida e estresse nos molares, corpo mandibular e no processo condilar. Nós encontramos que P. tajacu e T. pecari compartilham traços de forma craniomandibular (corpo mandibular mais curto e profundo e áreas de inserção muscular mais amplas) que lhes permite aplicar maior força durante a mordida e resistir ao risco de fraturas de maiores demandas biomecânicas do que P. wagneri. De modo geral, nossos resultados ressaltam o papel da variação ambiental dirigindo clinas na forma e tamanho do crânio, sobretudo a disponibilidade de recursos, e corroboraram a hipótese de que a forma reflete de perto o desempenho biomecânico das espécies.
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: