Interação entre remoção de palha e adubação nitrogenada sobre a volatilização de NH3 e emissão de N2O na cultura da cana-de-açúcar
Resumo
O Brasil possui uma área de 8,74 milhões de hectares cultivada com cana-de-açúcar.
Atualmente, cerca de 90% dessa área é colhida mecanicamente sem despalha a fogo, o que
resulta em grande quantidade de palha (7 a 25 Mg MS ha-1) que permanece sobre o solo após a
colheita. A remoção total ou parcial da palha para fins energéticos é uma prática que vem sendo
estudada em razão do potencial desta matéria prima na produção de etanol de segunda geração
e bioeletricidade. No entanto, pouco se sabe sobre os efeitos desta prática na perda nitrogênio
(N) por volatilização de amônia (NH3) após a fertilização nitrogenada e nas emissões de óxido
nitroso (N2O) do solo. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a interação entre diferentes
taxas de remoção de palha e adubação nitrogenada sobre a volatilização de NH3 e a emissão de
N2O no sistema de cultivo de cana-de-açúcar. Dois estudos foram realizados a campo na
Universidade Federal de Santa Maria, com delineamento experimental em blocos ao acaso, em
esquema fatorial 4x2, com quatro repetições. O primeiro fator: 0, 4, 8 e 12 Mg ha-1 de palha
(100, 67, 33 e 0% de remoção). O segundo fator: 0 e 100 kg ha-1 de ureia-N, o que resultou em
8 tratamentos: 0S, 0S+N, 4S, 4S+N, 8S, 8S+N, 12S e 12S+N. A ureia foi aplicada em dose
única aos 52 dias em 2016 e 60 dias em 2017 após a colheita da cana-planta. Nos dois anos,
durante aproximadamente duas semanas após a aplicação do N-ureia foram realizadas medições
de volatilização de NH3, N inorgânico do solo, NH4
+ e N total solúvel em água da palha. No
primeiro ano, foram realizadas avaliações da emissão de N2O, N inorgânico do solo, conteúdo
de água e temperatura do solo e C e N remanescentes na palha desde a adição da palha ao solo
até a colheita da cana-soca. A volatilização de NH3 diferiu entre os dois anos avaliados e a
quantidade de N-NH3 perdida reduziu com o aumento dos níveis de remoção de palha (12S >
8S > 4S > 0S). Isso foi relacionado a diminuição da barreira física da palha que dificulta a
infiltração do N-ureia no solo. Essa hipótese foi confirmada pelas dinâmicas do N na camada
superficial do solo e na palha, o que sugere maior retenção de N-ureia com aumento das
quantidades de palha. Além disso, parte da NH3 volatilizada ocorre diretamente a partir da
palha. Foi observado dois “hot moments” (HM) de emissão de N2O do solo, o primeiro após a
colheita da cana e o segundo após adubação nitrogenada. No primeiro HM, as emissões de N2O
foram fortemente relacionadas com o espaço poroso saturado por água (EPSA) e a quantidade
de C disponível e no segundo HM, além desses, o NO3
- resultante da adição do N-ureia
influenciaram as emissões. A remoção da palha reduziu a emissão acumulada de N2O nos
tratamentos sem N e com N. Efeito semelhante foi observado para o fator de emissão calculado
para a palha e para o N-ureia. Diante desses resultados, fica demostrado que o aumento na taxa
de remoção da palha na superfície do solo diminui significativamente a volatilização de NH3 e
as emissões de N2O. Entretanto, a remoção indiscriminada de palha não é uma prática
recomendada sendo necessário estudos em diferentes aspectos ambientais e agronômicos para
definir a quantidade ideal de palha a ser removida.
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