A aprendizagem do estudante com deficiência intelectual na educação superior: obstáculos e possibilidades
Abstract
Esta Tese de Doutorado em Educação está alicerçada nos estudos de Lev Semionovitch Vigotski, especialmente, sobre a defectologia e os conceitos de compensação, coletividade, mediação e zona de desenvolvimento proximal/imediato/iminente, desenvolvidos pelo psicólogo russo. A investigação teve por objetivo analisar as narrativas de diversos profissionais sobre os processos de aprendizagem dos estudantes com deficiência intelectual na Educação Superior, e, a partir dessas narrativas, identificar o que possibilita/promove/facilita a aprendizagem desses estudantes, sua aprovação, promoção e conclusão na Educação Superior. A coleta de dados foi realizada in loco em quatro universidades federais brasileiras, duas na Região Sul, uma na Região Norte e uma na Região Nordeste. Nessas instituições, foram efetivadas 29 entrevistas com 32 pessoas, dentre eles, profissionais dos Núcleos de Acessibilidade, profissionais de apoio pedagógico (sem vinculação com os Núcleos de Acessibilidade), professores e coordenadores de cursos. As entrevistas foram transcritas e analisadas através da técnica de Análise Textual Discursiva. A materialidade da pesquisa foi organizada em cinco categorias: “Mapeamento e identificação dos estudantes com deficiência intelectual na Educação Superior”; “Obstáculos para a aprendizagem do estudante com deficiência intelectual na Educação Superior”; “Possibilidades para a aprendizagem do estudante com deficiência intelectual na Educação Superior”; “O trabalho dos Núcleos de Acessibilidade” e “Perspectivas futuras: aprovação, conclusão do curso, atuação profissional”. Destacaram-se como obstáculos para a aprendizagem do estudante com deficiência intelectual na Educação Superior: as carências na formação, as condições de trabalho e o perfil docente; algumas características dos próprios estudantes com deficiência intelectual; defasagens da aprendizagem anterior à universidade; características das disciplinas e perfil das turmas e, por fim, a negligência e a superproteção familiar. Como possibilidades para a aprendizagem desses estudantes, ressaltaram-se os casos em que a deficiência é considerada leve. A assiduidade, o fácil trato, a pontualidade, o interesse, a dedicação, a participação em sala de aula, a procura pelo professor nos momentos extraclasse e a realização de atividades extras são atitudes consideradas positivas. A coletividade destacou-se como possibilidade de compensação da deficiência, na medida em que favorece o desenvolvimento das funções psíquicas superiores. Evidenciou-se a necessidade dos docentes utilizarem diferentes estratégias para a mediação e a avaliação da aprendizagem, bem como dos estudantes com deficiência intelectual receberem acompanhamento pedagógico extraclasse, ofertado por profissionais dos Núcleos de Acessibilidade ou dos setores de apoio pedagógico, trabalho diferente do realizado pelos monitores/tutores e pelos professores das disciplinas, que enfocam os conteúdos curriculares. As narrativas dos profissionais permitem concluir e defender a Tese de que, mesmo que os docentes lancem mão de diversas estratégias e adaptem suas metodologias de ensino e avaliação ou que hajam influências positivas dos Núcleos de Acessibilidade, alguns estudantes com deficiência intelectual não irão elaborar aprendizagens acadêmicas inerentes à Educação Superior, seja em razão do grau do seu comprometimento intelectual, que limita as possibilidades de compensação e de aprendizagem, mediada pela colaboração, na zona de desenvolvimento proximal/imediato/iminente; seja em razão das (não)aprendizagens na Educação Básica; seja pela fragilidade das estratégias institucionais para a permanência e aprendizagem desses sujeitos na Educação Superior.
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