Clara, Mônica e Joana: mulheres professoras em seus diferentes arranjos familiares
Resumo
Neste estudo, tive por objetivo compreender as formas a partir das quais professoras com arranjos familiares distintos, tendo em vista principalmente a presença e/ou a ausência dos elementos de maternidade e de conjugalidade, vivenciam a condição de mulher trabalhadora. O estudo foi desenvolvido entre os anos de 2015 e 2017, enquanto uma etnografia sobre os universos de três professoras da rede de educação público-estadual do Rio Grande do Sul que atuam em escolas da cidade de Acampamento, no centro do estado. São elas: Clara, uma professora casada e sem filhos; Mônica, uma professora viúva e com uma filha; e Joana, uma professora com um companheiro e dois filhos. Como forma de explorar os universos de cada uma das professoras, o trabalho de campo foi realizado especialmente a partir de observação participante e de entrevistas abertas e semiestruturadas com as professoras. Também recorri ao exame de informações e interações das professoras em redes sociais, tais como o Facebook. As histórias e as vivências de cada uma delas, dentro de suas singularidades, demonstraram o quanto o acesso ao magistério e o exercício da profissão de professora ainda se dão por diferentes condicionantes que dizem respeito às possibilidades e aos limites postos à mulher trabalhadora, a partir das formas que a divisão sexual do trabalho assume em cada época. Junto à isso, pode-se observar que a desvalorização e a falta de reconhecimento do magistério aparecem não só como fenômenos vinculados ao descaso com a educação pública, mas também ao baixo valor atribuído aos trabalhos de mulher, o que acaba, por sua vez, expondo a categoria profissional a um processo de degradação devido à condições insatisfatórias para a realização de suas atividades, gerando desinteresse e até mesmo produzindo o abandono da profissão. Os arranjos familiares das professoras estudadas são variados, apresentando-se enquanto formas de organização que ao mesmo tempo em que negam o modelo da família moderna, também por ele são influenciadas enquanto um ideal social hegemônico. Assim, tais arranjos só podem ser compreendidos enquanto produtos da relação entre o modelo da família moderna e contextos sociais singulares que o ressignificam. A presença e/ou a ausência dos elementos de maternidade e de conjugalidade são vivenciados pelas professoras de diferentes maneiras, porém, de modo geral, foi possível perceber que se impõem como condicionantes às suas vivências de mulheres trabalhadoras, não naturalmente, mas socialmente, tendo em vista que a criação dos filhos e a convivência com um companheiro ainda trazem consigo uma série de encargos, relativos ao lar e à família, que são compreendidos culturalmente como obrigações fundamentalmente femininas, demandando das professoras diferentes articulações em se dependendo da composição de seus arranjos familiares.
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