Um resumo acadêmico gráfico vale mais do que mil palavras: análise crítica de um gênero multimodal polivalente
Abstract
Esta tese (GAP/CAL nº 040187), adjacente à dissertação de Mestrado (FLOREK, 2015), integra um projeto maior que visa à investigação de gêneros acadêmicos multimodais com vistas aos multiletramentos. Sob orientação da Profª. Dra. Graciela Rabuske Hendges (GAP/CAL nº 046194), neste trabalho, objetivamos investigar o resumo acadêmico gráfico (graphical abstract, doravante RAG) quanto à forma e à função, identificando a instanciação linguística verbal e visual, o modo como os significados formam uma unidade de sentido reconhecível e replicável e o contexto de produção (editores e autores), consumo (leitores) e distribuição (editoras) que envolve a prática discursiva. A Análise Crítica de Gênero (p. ex. MOTTA-ROTH; HEBERLE, 2015) nos embasa teoricamente e viabiliza: i) investigação dos estratos da fonologia, grafologia e gráfico, da semântica e pragmática e do contexto de situação dos modos semióticos visual e verbal, pelas bases téorico-metodológicas da Linguística Sistêmico-Funcional (p. ex., HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004; 2014) e da Análise do Discurso Multimodal (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006); ii) averiguação do contexto de cultura via abordagem de Análise de Gênero de Swales (1990) e da Sociorretórica (p. ex., MILLER, 1984; 2015; BAZERMAN, 1988); e iii) investigação do discurso pela Análise Crítica do Discurso (p. ex., FAIRCLOUGH, 1992; 2003). Metodologicamente, a Teoria Baseada nos Dados (CHARMAZ, 2006) ampara a construção e a combinação de teorias ao longo da coleta e análise sistemática de dados relevantes. Esta pesquisa abrange as áreas de Química e de Engenharias. O corpus contextual congrega: questionários respondidos por editores e autores-leitores de periódicos científicos relevantes nas áreas e documentos sobre a prática de RAGs (instruções para autores, editoriais, blogs e estudos científicos sobre o RAG). O corpus textual compreende: 30 RAGs, de 15 periódicos científicos, publicados por quatro editoras. Os resultados mostram polivalência do propósito comunicativo de publicização da ciência em virtude da triangulação de forças entre produtores, consumidores e distribuidores, movidos por diversificadas exigências contextuais. As editoras têm hegemonia na definição do espaço ocupado pelo RAG e sobre os padrões formais (p. ex. prevalência do visual estático sobre o verbal escrito, combinação de imagens do artigo entre si ou a novas imagens; organização da informação em layouts diversificados). A interação com o leitor ocorre predominantemente por meio da modalidade, com tendência a imagens abstratas, cuja formalidade é quebrada pelos recursos de cor empregados. As relações entre os grupos focais visuais, considerados unidades mínimas de significado do RAG, revelam como as informações se interligam e podem ser simples ou, predominantemente, complexas (hipotáticas, paratáticas, encaixadas). Títulos e, eventualmente, pequenos textos verbais – elementos não obrigatórios em RAGs – criam congruência e expansão da informação visual. Nossa principal conclusão é de que o RAG representa uma taxonomia informativo-persuasiva do processo cognitivo de produção de uma pesquisa científica, de modo especial no que tange à apresentação dos resultados e da metodologia, quando esta última também figura como uma descoberta. O RAG é altamente persuasivo em termos de composição e de interação com o leitor, entretanto, em termos do conteúdo representado, predomina a preocupação com a informatividade, sendo a cor o elemento máximo de integração das informações.
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