Não é não, não? Um estudo sobre o marcador negativo “não” em discursos políticos de presidentes brasileiros na perspectiva da linguística sistêmico-funcional
Resumo
A presente tem como objetivo explorar o caráter léxico-gramatical e semântico avaliativo-discursivo do Adjunto modal “não” em discursos políticos a partir da perspectiva da Linguística Sistêmico-Funcional. Para o alcance do objetivo, foram necessários: (i) a criação e a organização de um corpus representativo, constituído de textos autênticos, sob conteúdo e tipologia similares; (ii) a seleção de teorias linguísticas e discursivas e, também, abordagens históricas para descrição dos discursos políticos e entendimento das condições de produção; (iii) a produção de uma análise léxico-gramatical e uma análise semântico-discursiva para dar conta do comportamento linguístico-gramatical e discursivo do Adjunto negativo nos discursos políticos. Para tanto, elencaram-se a Linguística Sistêmico-Funcional e seu aparato de descrição gramatical, a Gramática Sistêmico-Funcional, de Halliday e Matthiessen (2004, 2014) como base teórica sobre a constituição e o funcionamento da linguagem, em nível léxico-gramatical e o Sistema de Avaliatividade, de Martin e White (2005), para entendimento sobre a organização do uso da negação no nível da semântica do discurso. Estudos complementares como o de Tottie (1987), Givón (1993, 2001), e Gouveia (2010) servem como aporte suplementar acerca das particularidades sintáticas e semânticas do Adjunto negativo. Sobre o entendimento contextual e discursivo dos discursos políticos, usa-se a Abordagem Histórico-Discursiva, de Wodak (2001, 2008, 2009, 2012) e Reisigl e Wodak (2001) e para a narração histórico-discursiva dos períodos nos quais os discursos foram produzidos, usa-se Linz e Stepan (1996), Reis (2000) e Borges e Barreto (2016). Quando à criação, organização e análise estatístico-textual do corpus utilizou a ferramenta computacional Sketch Engine, de Kilgarriff et al (2014), juntamente com o abordagem da Linguística de Corpus, de Berber-Sardinha (2000) e Sinclair (1991) com os conceitos de colocação e coligação. Através de uma metodologia triangular, envolvendo pesquisas de natureza quantitativa e qualitativa, analisou-se cem (100) discursos políticos, organizados em dois blocos: cinquenta (50) discursos de ex-presidentes do regime militar, de 1964 a 1985) e cinquenta (50) discursos de ex-presidentes civis (1986 a 2010). Selecionados os cinco primeiros discursos do primeiro mandato e os cinco últimos discursos do último mandato, para fins comparativos, a análise desta tese divide-se em dois níveis: léxico-gramatical e semântico-discursivo. Em relação à primeira análise, os resultados mostram que nos discursos ex-presidentes do regime militar, o Adjunto negativo “não” possui frequência significativamente menor em relação aos discursos dos ex-presidentes civis. Além disso, o padrão de uso do “não” durante o regime militar é caracterizado pelo uso da impessoalidade e pela modulação por obrigação. Já padrão de uso do Adjunto negativo nos discursos pós regime-militar, o “não” é associado com pronomes em primeira pessoa tanto do singular quanto plural e possui é colocado em maior variedade de processos em relação. Conclui-se que a frequência inferior do “não” durante o regime militar se dá por sua característica dialógica: tendo em vista à configuração culturo-institucional do regime militar, marcada pelos Atos Institucionais e secretarias de controle nacional, não havia possibilidade de reconhecimento de um espaço dialógico entre produtor textual e público.
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