Trabalho, saúde e resiliência de cuidadores familiares de crianças e adolescentes em tratamento oncológico
Resumo
Este estudo teve como objetivo analisar os fatores associados ao nível de resiliência de
cuidadores familiares de crianças e adolescentes hospitalizados para tratamento oncológico e
os fatores associados. Trata-se de um estudo quantiqualitativo, realizado em 2018. Na etapa
quantitativa, desenvolveu-se um estudo transversal com 62 participantes, que responderam questões
sobre o perfil sociodemográfico, laboral e de saúde, o CD-RISC-10-Br para avaliação de resiliência, o
SRQ-20 para a propensão para desenvolvimento de Distúrbios Psíquicos Menores (DPMs), o
WHOQOL-bref sobre a qualidade de vida e o PSS-14 para o estresse percebido. A análise dos dados
foi realizada no programa SPSS, versão 18.0. Na etapa qualitativa, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas com 16 participantes e submetidas à análise de conteúdo proposta por Bardin. A
pesquisa segue os preceitos éticos, conforme a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional da Saúde e
foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa sob a CAAE nº 81527317.6.0000.5346. Predominaram
familiares cuidadores do sexo feminino (80,6%), casados ou união estável (69,4%), os que possuíam
um filho (32,3%) e praticavam alguma religião (77,4%). Possuíam doença prévia (21%), faziam uso
de medicamentos (22,6%), não praticavam atividade física (64,5%) e referiram ter alguma atividade de
lazer (67,7%) e exerciam alguma atividade laboral antes do diagnóstico da doença (66,1%). Destes,
44% continuaram trabalhando. Mas 57,4% não trabalhavam mais. Nos aspectos da saúde, 48,4%
apresentaram moderado nível de resiliência; houve 45% com suspeição para DPM e 41% com alto
nível de estresse. Quanto à qualidade de vida, estavam satisfeitos nos domínios físico (67,7%),
psicológico (62,9%) e relações sociais (61,3%); e insatisfeitos no domínio meio ambiente (75,8%).
Quanto menor o nível de resiliência maior a pontuação para o estresse e a suspeição para DPM (p<
0,05). Os cuidadores familiares insatisfeitos com a QV no domínio meio ambiente apresentaram nível
intermediário de resiliência (55,3%). Na etapa qualitativa, os resultados foram agrupados em três
categorias: a primeira, Estratégias para manter-se no mercado de trabalho: um desafio para quem
cuida, desvela que poucos cuidadores familiares se mantiveram em seus empregos formais e, para
isso, utilizaram estratégias como atestados, férias e comprovantes de hospitalização do filho. Para
outros o trabalho informal surgiu como alternativa para aquele momento. Na segunda categoria, o
enfrentamento do desemprego: sentimentos de deixar o trabalho em prol do cuidado, identificam-se os
significados e sentimentos envolvidos na decisão de dedicar-se exclusivamente ao cuidado. A terceira
categoria, alterações na saúde do familiar cuidador após o diagnóstico do câncer infanto-juvenil: um
alerta para a equipe de saúde, sinaliza diversas alterações na saúde dos cuidadores familiares e as
estratégias utilizadas para o enfrentamento da realidade vivenciada. Embora estressante e preocupante,
a rotina de cuidados pode proporcionar aprendizados, mostrando que, apesar da difícil situação
vivenciada, o que importa de fato é a saúde da criança ou adolescente. E a fé, a religiosidade e o apoio
social são fatores que os ajudam no processo de enfrentamento do câncer infanto-juvenil.
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