O discurso do jornalismo de revista sobre os desastres socioambientais
Resumo
O nosso trabalho parte da ideia de que o discurso jornalístico é construtor e produtor de sentidos sobre a realidade social. Com isso, buscamos compreender quais são os sentidos imbricados no discurso jornalístico em reportagens que tratam de desastres socioambientais. Nosso objetivo é entender, através de aportes teóricos da Análise do Discurso e da Sociologia, quem são os responsáveis, quais as causas dos desastres e como são retratadas as vítimas destes eventos no discurso jornalístico. Nosso corpus é constituído por 10 reportagens sobre os deslizamentos ocorridos na região serrana do Rio de Janeiro, em 2011, selecionadas das revistas Carta Capital, Época, IstoÉ e Veja. Trazemos definições teóricas acerca do discurso jornalístico, do Jornalismo Ambiental, das concepções sobre catástrofes e desastres e da cobertura jornalística destes eventos extremos. Para nossa análise, construímos um protocolo de análise que foi aplicado em dois momentos. Primeiramente, apreendemos as sequências discursivas (SDs) que se encaixavam nos enunciados propostos por Valencio (2010), com o objetivo de analisar os sentidos referentes às vítimas. Num segundo momento, construímos dois outros enunciados para complementar os primeiros, analisando como o discurso jornalístico constrói as causas do acidente e as responsabilidades por ele. Através da análise de 9 revistas e 157 Sequências Discursivas ao total, verificamos que os sentidos construídos pelo discurso das revistas são, em grande parte, referentes à culpa do poder público por suas omissões e negligência. O meio ambiente é tido como o segundo principal culpado pelos desastres. Já as vítimas, mesmo em menor número de Sequências, também são consideradas culpadas pela sua própria situação, entre outras particularidades.