Criação e validação de um instrumento para avaliar tempo de reação de profissionais militares na tarefa de tiro e análise de variáveis cognitivas associadas
Resumo
A capacidade de reagir rapidamente frente a estímulos inesperados, denominada tempo de reação (TR), assume importância crucial em atividades profissionais como a de militares. Fatores como a capacidade de atenção, memória e inteligência podem influenciar no tempo de reação. Nesse sentido, para a avaliação da velocidade de reação em situações mais específicas, faz-se necessário a criação de instrumentos fidedignos que possibilitem a realização de tarefas adequadas ao contexto em que os sujeitos estão inseridos. Desse modo, o objetivo deste estudo foi criar e validar um instrumento para avaliar o tempo de reação de profissionais militares na tarefa de tiro e analisar as variáveis cognitivas associadas a esta capacidade. Para tanto, a pesquisa foi dividida em dois estudos. Inicialmente, o Estudo 1 objetivou criar, validar e verificar a fidedignidade de um instrumento simulador de tiro para avaliação do tempo de reação. Participaram 90 militares da Base Aérea de Santa Maria, do sexo masculino divididos em três grupos: G1 (entre 18 e 29 anos); G2 (entre 30 e 39 anos) e G3 (entre 40 e 50 anos). A criação do instrumento consistiu no desenvolvimento de um software com a utilização de uma pistola eletrônica para a realização de dois testes na tarefa de tiro: tempo de reação simples e tempo de reação de escolha, realizados em dois dias com intervalo de 24 horas. Para a determinação da validade utilizou-se um teste t para amostras pareadas e diagramas de Bland-Altman para a aplicação do método de gold standard. Para a fidedignidade utilizou-se o coeficiente de correlação intraclasse. Os resultados da validade concorrente foram satisfatórios para todos os grupos. Não foram encontradas diferenças significativas entre os dois instrumentos e foi evidenciada boa concordância por meio dos diagramas de Bland-Altman. Para a fidedignidade nos três grupos os resultados foram significativos (p<0,05), dentro dos valores de referência (CCI>0,70) em ambos os testes, o que é considerado satisfatório para comprovar a fidedignidade de um instrumento. Em um segundo momento, foi desenvolvido o Estudo 2 que objetivou explorar a relação existente entre a velocidade de reação motora, a inteligência, a memória e a atenção em uma amostra de policiais militares, a fim de identificar o principal contribuinte para as diferenças individuais no desempenho relacionado a exigências de velocidade de processamento de informações. A amostra foi composta por 66 militares do sexo masculino, com idade média de 37,15 ± 8,59 anos, integrantes do policiamento ostensivo do 1° Regimento de Policia Montada (RPMOM) da cidade de Santa Maria, avaliados quanto à velocidade de reação, atenção, memória e inteligência. Os resultados demonstraram correlações significativas entre a velocidade de reação, a atenção concentrada (r=-0,32 a r=-0,46) e a memória (r=-0,25). Também foi encontrada correlação entre memória e inteligência (r=0,47). Os modelos finais de regressão múltipla Stepwise/Backward revelaram apenas a atenção como um previsor significativo (β entre -0,32 e 0,46; p<0,05) da velocidade de reação. Em suma, pode-se inferir que a utilização do instrumento proposto poderá possibilitar um meio viável e de baixo custo para a avaliação e manutenção da capacidade de reação motora em contextos militares, levando em consideração as relações encontradas com as habilidades cognitivas, principalmente a capacidade atencional, como preditora da velocidade de reação. Ressalta-se a importância de estudos exploratórios que possam desvendar a relação existente entre estas variáveis, e sugerir estratégias de aprimoramento cognitivo que possam auxiliar na eficácia do processamento de informações, bem como na tomada de decisões que antecedem as ações motoras.
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