Mecanismos envolvidos na proteção do disseleneto de difenila sobre a toxicidade induzida por metilmercúrio em Saccharomyces cerevisiae
Resumo
Os seres humanos normalmente são expostos à forma orgânica do Hg, o cátion organometálico metilmercúrio ([CH3Hg]+, MeHg), através da alimentação com peixes e frutos do mar. Os efeitos neurotóxicos do MeHg já são amplamente conhecidos. Indivíduos expostos a altas concentrações desse composto apresentaram distúrbios sensoriais nas mãos e pés, disfunção auditiva e visual, fraqueza e, em casos extremos, paralisia e morte. Embora os mecanismos exatos subjacentes à toxicidade do MeHg ainda não estejam totalmente elucidados, há evidências de que o estresse oxidativo desempenha um papel central nesse processo. O composto orgânico derivado do selênio, disseleneto de difenila [(PhSe)2] é um intermediário sintético eletrofílico simples na síntese de vários compostos orgânicos de interesse farmacológico contendo selênio, tendo apresentado as propriedades antioxidante, anti-nociceptiva, anti-inflamatória, antihiperglicêmica, antiteratogênica, entre outras. O objetivo principal deste trabalho foi investigar alguns mecanismos envolvidas no efeito protetor do (PhSe)2 sobre a toxicidade induzida por MeHg, utilizando cepas selvagem e knockout de Saccharomyces cerevisiae para diferentes enzimas e proteínas ligadas ao sistema de defesa antioxidante. Utilizando-se dessas linhagens, bem como diferentes concentrações de (PhSe)2 e/ou MeHg, os objetivos específicos desse trabalho foram: i) avaliar a inibição do crescimento; ii) quantificar a produção de espécies reativas do oxigênio; iii) avaliar a permeabilidade das membranas celulares; iv) quantificar o conteúdo intracelular de GSH. O presente estudo lança luz sobre os mecanismos envolvidos na proteção do disseleneto de difenila contra o MeHg indicando o envolvimento do sistema de defesa antioxidante de S. cerevisiae e o sequestro de Hg na proteção do (PhSe)2. O composto disseleneto de difenila protege contra a toxicidade induzida pelo metilmercúrio, conforme observou-se na recuperação do crescimento e menores índices de espécies reativas de oxigênio, permeabilidade de membrana e restauração do conteúdo intracelular de GSH, em leveduras tratadas com ambos os compostos. O efeito protetor desencadeado pelo disseleneto de difenila parece estar relacionado com a ativação de algumas enzimas do sistema antioxidante das leveduras. Nem todas as enzimas antioxidantes analisadas tiveram a mesma participação ou importância no mecanismo de proteção. A similaridade funcional e genética entre células de leveduras e de mamíferos sugere que a elucidação desses mecanismos ajudará a direcionar a pesquisa para humanos.
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