Famílias e diversidade de gênero: um estudo do desempenho das companhias listadas na bolsa de valores brasileira
Resumo
A governança corporativa é um tema de relevância em Finanças, por propor práticas que amenizam o problema de agência, causado pela separação entre propriedade e controle nas empresas. Entretanto, firmas de origem familiar não apresentam essa separação tão clara, e as relações familiares existentes podem tornar os conflitos de agência mais complicados de se resolver. No processo de sucessão dessas empresas, percebe-se que o gênero feminino enfrenta dificuldades de inserção. Entretanto, a participação das mulheres nas organizações como um todo também tem se mostrado importante, uma vez que pode mitigar os conflitos de agência existentes. Assim, buscou-se verificar a influência da estrutura familiar e da diversidade de gênero no desempenho das empresas listadas na bolsa de valores do Brasil. Adicionalmente, verificou-se se o monitoramento e a dualidade afetavam o desempenho das companhias familiares, e se a existência de laços familiares entre conselheiras e executivas e seus colegas afetava o desempenho das firmas. Utilizou-se dados secundários da Comissão de Valores Mobiliários e da Economática, os quais compreenderam o período de 2010 a 2017, além de técnicas quantitativas para a análise, como dados em painel e o método de momentos generalizados. Através dos resultados, verificou-se que, das 228 empresas da amostra, 112 foram classificadas como firmas familiares, e que menos de 8% do total de assentos nos conselhos de administração e em cargos executivos na amostra eram ocupados por mulheres. Em relação ao impacto da participação familiar nas companhias familiares, os resultados foram variados, mostrando que um maior número de fundadores e herdeiros nos conselhos reduz o desempenho, ao passo que a participação dos fundadores e herdeiros como CEOs e como acionistas exerceu um efeito tanto positivo quanto negativo, dependendo da variável dependente analisada. Quanto à propriedade acionária pertencente às famílias, tanto direta quanto indiretamente, percebeu-se um efeito positivo, corroborando com a ideia de que famílias acionistas tendem a zelar pelos seus negócios, levando a um desempenho melhor. Para o efeito do monitoramento sobre as firmas familiares, verificou-se que a presença de conselheiros independentes afetou de maneira ambígua o desempenho, enquanto o tamanho dos conselhos exerceu um efeito negativo. Ademais, a dualidade teve um efeito positivo sobre a performance das firmas familiares. Para diversidade de gênero, cujo impacto foi analisado para toda a amostra, confirmou-se que uma maior participação feminina nos conselhos de administração e em cargos executivos leva ao aumento no desempenho das firmas estudadas. Entretanto, o efeito da participação de conselheiras e executivas que apresentaram laços familiares com seus colegas foi negativo, abrindo espaço para discussão. Esta pesquisa se diferenciou por trabalhar uma série de variáveis pouco estudadas no Brasil, além de utilizar um banco de dados atual e um método relativamente recente. Ademais, permitiu mostrar que, mesmo com a evolução da composição das firmas, muitas delas ainda são familiares, e trouxe à tona o pequeno número de mulheres atuando nas companhias, dando margem para ações que visem reduzir a desigualdade entre os gêneros.
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