A adoção do padrão internacional contábil e sua influência na estrutura de capital das empresas brasileiras: um quase-experimento
Resumo
A estrutura de capital das empresas, constituída pela proporção de recursos próprios e de terceiros, transmite ao mercado informações relacionadas à sua estrutura de financiamento, tornando-a suscetível a avaliação de agentes, tantos internos quanto externos, afetando as expectativas destes quanto à maior ou menor probabilidade de ganho mediante o investimento. Nesse contexto, a governança corporativa surge como mecanismo de garantir aos alocadores de recursos o direito sobre o capital investido. O mercado brasileiro tem apresentado evolução no que tange a essas práticas, dentre elas, a adoção do padrão internacional contábil (IFRS) instituído pela lei 11.638 (2007), a qual permitiu que, por meio de duas fases de implantação, entre 2007 e 2009, as empresas brasileiras emitissem seus relatórios seguindo o padrão internacional. Embora essa lei tenha afetado a forma como uma parcela considerável das empresas de capital aberto transmitiam suas informações contábeis e financeiras, um grupo de empresas já estava adequado a esse padrão no período anterior à vigência da lei, devido à dupla listagem no mercado acionário doméstico e internacional por meio da emissão de American Depositary Receipts (ADRs). Diante do exposto, este estudo teve como objetivo analisar a influência da governança corporativa na composição da estrutura de capital, por meio de um comparativo entre as empresas adequadas às normas internacionais contábeis no período anterior à vigência da lei 11.638 (2007) e empresas que aderiram às mesmas mediante imposição desta. Para tanto, foi realizado um estudo quase-experimental por meio da metodologia Diferenças em Diferenças (DID) a qual permitiu a comparação dos níveis de alavancagem, tanto a valor de mercado e contábil, quanto o endividamento líquido das empresas, segmentando-as em dois grupos: de tratamento (empresas afetadas pela lei) e de controle (empresas emissoras de ADRs) no período anterior e posterior à vigência da lei. A etapa inicial da análise consistiu na análise gráfica, a qual evidenciou tendências paralelas nas medidas de alavancagem a valor de mercado e endividamento de longo prazo a valor contábil, satisfazendo a premissa inicial de aplicação do DID. Posteriormente, a aplicação do modelo evidenciou alterações na contratação de capital das empresas, influenciadas pelo forte efeito do grupo de controle, cuja dependência por recursos externos aumentou. O coeficiente DID apresentou-se estatisticamente significativo para as medidas a valor de mercado, evidenciando níveis mais elevados de endividamento em empresas emissoras de ADRs no período posterior à vigência da lei, se comparados a empresas que aderiram ao padrão internacional mediante a imposição desta. Os resultados ainda evidenciaram, ao analisar um conjunto de variáveis independentes consideradas determinantes na estrutura de capital, maior influência do porte da empresa, oportunidades de crescimento e investimento, confirmando maior adequação aos pressupostos da teoria do Trade-Off.
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: