Exposição crônica ao herbicida paraquat promove desequilíbrio no sistema antioxidante e alterações comportamentais em peixe zebra (Danio rerio)
Resumo
Na última década, tem se investigado padrões comportamentais que reflitam as alterações fisiológicas e bioquímicas de organismos modelo promissores, como o peixe zebra (Danio rerio). O peixe zebra tem se mostrado uma útil ferramenta para diferentes estudos dose e resposta de drogas, e em estudos de biomonitoramento. A exposição ao herbicida paraquat (PQ), um comum contaminante ambiental, é considerada um fator de risco para o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como a doença de Parkinson. No cérebro o PQ atua sobre os neurônios dopaminérgicos induzindo o estado de estresse oxidativo através do seu ciclo redox sobre a fosfato de nicotinamida adenina dinucleotídeo (NADPH) e também sobre as mitocôndrias, induzindo disfunção mitocondrial e morte desses neurônios. Desse modo, o objetivo desse estudo foi avaliar parâmetros comportamentais e alterações bioquímicas em cérebros de peixe zebra em um modelo de tratamento crônico com PQ. PQ (20 mg/kg; grupo tratado) ou salina (0.9%; grupo controle) foram administrados por via intraperitoneal, uma injeção a cada 3 dias durante 16 dias, totalizando seis injeções em peixe zebra adulto de ambos os sexos. Peixes zebra tratados com PQ mostraram um caráter menos ansioso em relação ao grupo controle. O comportamento menos ansioso foi determinado pela diminuição em comportamentos de defesa, como diminuição tempo de permanência na parte inferior do tanque, latência para a primeira entrada seção superior e número e duração de episódios de avaliação de risco no ensaio ao novo tanque e teste claro-escuro. Além disso, os animais tratados apresentaram um caráter mais agressivo, aumentando o tempo e duração de episódios agressivos no teste de agressão induzida pelo espelho. No entanto, não foram observadas alterações nos parâmetros locomotores e motores. Além disso, o tratamento com PQ induziu dano cerebral através da diminuição da viabilidade mitocondrial. O tratamento com PQ induziu também o aumento da atividade de biomarcadores do sistema de defesa antioxidande, como catalase (CAT), glutationa peroxidase (GPx), e níveis de tióis não proteicos (NPSH), assim como na glutationa-S-tranferase (GST). Entretanto, não houve alterações nos níveis de espécies reativas de oxigênio (EROS) e danos oxidativos em lipídios (TBARS). Nós demonstramos pela primeira vez que PQ induziu a um comportamento mais agressivo e diminuição de parâmetros não motores relacionados a comportamentos de defesa. Estes dados sugerem que animais expostos a PQ estejam mais suscetíveis a predação, uma vez que se expõem mais ao perigo. O aumento da agressividade pode influenciar o comportamento social do cardume. As alterações comportamentais podem ser produto dos danos cerebrais demonstrados pela diminuição da viabilidade de células encefálicas.
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