Rompendo modelos: violência intrafamiliar contra idosos e a possibilidade de ressignificação a partir de grupos terapêuticos
Resumo
Este trabalho investigou as relações que se estabelecem entre pessoas idosas que sofrem violência praticada por familiar usuário de álcool e outras drogas e a possibilidade de ressignificação a partir de grupos terapêuticos. Nele há correlação e articulação de conceitos e perspectivas de idosos, violência, uso de drogas e os processos terapêuticos grupais, constituindo-se na temática pesquisada. Teve como objetivo geral: Compreender o papel dos grupos terapêuticos para pessoas idosas que sofrem violência praticada por familiar usuário de álcool e outras drogas. E como objetivos específicos: Identificar como o idoso percebe a violência praticada por seu familiar; entender os processos terapêuticos grupais para idosos que sofrem violência praticada por seu familiar e que frequentam grupos terapêuticos. Pesquisa com abordagem qualitativa, fundamentada no Construcionismo Social. Para a produção dos dados foi estruturado um grupo terapêutico constituído exclusivamente por idosos, que passaram a constituir os sete participantes do estudo. Foram utilizados os seguintes critérios de inclusão no grupo: ter idade igual ou superior a 60 anos, ser vítima de violência praticada por um familiar dependente químico, ter acessado o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas do município de Santa Cruz do Sul, para solicitar auxílio, aceitar frequentar/participar no grupo terapêutico. Deste modo, participaram sete idosos que vivenciaram situação de violência praticada por familiar usuário de álcool e outras drogas. Inicialmente, foi realizada entrevista com cada idoso. Na sequência, eles frequentaram o grupo terapêutico semanalmente por um período de seis meses. Os diálogos ocorridos nos encontros grupais foram registrados em diário de campo e objeto de análise. Ao término do período de desenvolvimento dos encontros grupais, os idosos foram novamente entrevistados. Todas as entrevistas foram transcritas, analisadas e interpretadas, construindo-se mapas de associação de ideias. Dentre os resultados, pode-se identificar que os entrevistados, a partir da singularidade de suas histórias de vida, significam de forma diferenciada sua participação em diferentes processos grupais. Para alguns, o grupo terapêutico se torna espaço de fala, escuta, alívio e orientação. Para outros, as falas e escutas tornam-se fonte de sofrimento, talvez pela repetição de conteúdos que refiram ao próprio sofrer ou pela impossibilidade de reelaboração. Relativo às questões da violência contra a pessoa idosa, as diferentes formas foram apontadas, tais como: abuso físico, psicológico, abandono, negligência, violação financeira e autonegligência. Destaca-se a ressignificação da violência, do entendimento do cuidado de si e de novas práticas discursivas com a participação em atividades grupais. Concluindo-se, que estes atravessamentos repercutem diretamente no cuidado ao familiar agressor e nas vivências da violência. Assim, o rompimento de modelos naturalizados, a responsabilização pelas perdas daí decorrentes, a reflexão necessária para a condução do processo, são as bases para a proposição de novas formas de cuidado. O grupo terapêutico coloca-se, então, como uma possibilidade de novos aprendizados e de rompimento com significantes de uma vida plena e a possibilidade de ressignificar a violência intrafamiliar.
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