Avaliação da sinalização purinérgica em plaquetas e linfócitos de pacientes com anemia falciforme
Resumo
As hemoglobinopatias constituem uma das principais e mais frequentes doenças genéticas que acometem os seres humanos. A anemia falciforme (AF) é a forma mais prevalente e com maior gravidade clínica e hematológica, sendo geneticamente determinada pela homozigose da hemoglobina S. A AF está associada a um estado inflamatório sistêmico e crônico, e a um fenótipo pró-adesivo e pró-coagulante sendo a maioria das mortes relacionada às oclusões vasculares. Os nucleotídeos extracelulares ATP, ADP, AMP e o nucleosídeo adenosina são importantes moléculas sinalizadoras que modulam as ações de plaquetas e linfócitos, sendo essenciais para o início e a manutenção das reações inflamatórias. Também atuam efetivamente na regulação da resposta vascular ao dano endotelial por exercerem efeitos nas plaquetas. Os níveis extracelulares destes nucleotídeos são fisiologicamente controlados pela ação de um complexo enzimático formado pelas enzimas E-NTPDase, E-5’nucleotidase e E-ADA. Estas enzimas estão localizadas na superfície de plaquetas e linfócitos e desempenham um papel importante na manutenção da hemostasia normal, prevenindo a excessiva agregação plaquetária, e estando relacionadas à resposta inflamatória. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o perfil inflamatório e, a atividade e expressão destas ecto-enzimas em linfócitos e plaquetas de pacientes com AF. Os resultados revelaram que algumas citocinas séricas (TNF-α e IL-6) mostraram-se significativamente reduzidos nos pacientes com AF quando comparado com o controle. Foi observado um aumento na atividade da E-NTPDase (hidrólise de ATP e ADP) nos linfócitos e plaquetas dos pacientes com AF. O aumento em sua atividade leva a manutenção dos níveis fisiológicos destes nucleotídeos no meio extracelular, impedindo um maior dano tecidual e inflamatório e, prevenindo a formação de trombos por equilibrar o metabolismo do ATP e ADP. Embora a atividade da E-NTPDase encontra-se aumentada, uma diminuição na porcentagem de plaquetas que expressam CD39 foi observado nos pacientes com AF, a qual pode estar diretamente relacionado com a terapia utilizada por estes pacientes. Quando avaliou-se a enzima E-5’-nucleotidase, nenhuma diferença estatística foi observada quanto a sua atividade e expressão nas plaquetas destes pacientes. Como um aumento na atividade da E-NTPDase foi observada, sugere-se que o AMP formado esteja sendo reconvertido a ADP pela ação da adenilato kinase 1 (AK1), já que as plaquetas destes pacientes são conhecidas por circular em estado ativado, apresentando alterada agregação plaquetária. Um aumento na atividade da E-ADA foi observado também nos linfócitos e plaquetas destes pacientes. A adenosina é liberada pelas células endoteliais em casos de hipóxia, sendo portanto este aumento na atividade da E-ADA positivo, uma vez que elevadas concentrações desta molécula no meio extracelular é prejudicial na patologia da AF, por levar indiretamente a falcização dos eritrócitos. Dessa forma, podemos concluir que o perfil de citocinas dos pacientes com AF foi alterado e que a regulação extracelular dos nucleotídeos em resposta à hipóxia e inflamação pelas ecto-enzimas representam um importante controle da mediação das purinas nesta patologia.
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