Avaliação do efeito do suco de uva orgânico como radiomodificador em modelos experimentais de radiobiologia
Abstract
A radiação ionizante tanto em doses altas e exposição aguda ou em doses fracionadas afeta as funções orgânicas. A exposição aguda pode causar uma série de efeitos secundários como imunodepressão, alterações gastrointestinais, dermatite e dano cardíaco. Já a exposição fracionada que ocorre em pacientes oncológicos além causar efeitos na região afetada pelo câncer, pode causar uma alguns efeitos sistêmicos como anorexia e necrose tecidual. A presente tese mostra o resultado de dois modelos experimentais de Radiobiologia. O objetivo do primeiro estudo foi avaliar o efeito radiomodificador do suco de uva orgânico (SUO) no coração em modelo animal de síndrome aguda da radiação (SAR). Os 20 ratos Wistar utilizados no experimento foram divididos em 4 grupos, sendo que dois destes foram irradiados com radiação gama por meio de uma fonte de Co-60 e os outros dois grupos cumpriram o protocolo sem serem irradiados. Os animais (ratos Wistar machos) foram suplementados com SUO ou solução de glicose e frutose (2 mL/dia) administrado via intragástrica uma semana antes e 4 dias após a exposição de corpo inteiro aos raios gama. Após a eutanásia, o sangue foi coletado para a quantificação da enzima lactato desidrogenase (LDH) e o coração foi excisado e homogeneizado para a determinação da peroxidação lipídica (LPO). Concentrações elevadas dos metabólitos da LPO no coração foram determinadas pelo ensaio das substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) e níveis elevados de LDH no soro foram encontrados apenas no grupo de ratos irradiados e suplementados com placebo, principalmente nas primeiras 24h. O suco atenuou a elevação desta enzima no soro. A análise fitoquímica do SUO foi realizada por meio da determinação de compostos fenólicos totais, flavonoides e taninos. A cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) mostrou que o composto majoritário no SUO é o resveratrol (31.28 ± 0.04 mg/L). Os resultados deste estudo sugerem que o SUO é forte candidato a ser um radiomodicador positvo, pois, o SUO atenuou o dano oxidativo causado no coração pela radiação. O segundo estudo analisou o efeitos secundários da irrradiação cranial fracionada em simulação à radioterapia, que é utilizada para o tratamento de tumores cerebrais. No entanto, a radiação cranial fracionada pode causar efeitos colaterais como déficits neurocognitivos, anorexia e osteorradionecrose. O SUO foi usado como medida preventiva contra os efeitos colaterais da irradiação. Os animais foram expostos a 8 sessões de irradiação cranial, totalizando 32 Gy de dose absorvida. Os animais foram divididos em 4 grupos, idênticos ao experimento anterior. Os animais receberam o SUO ou a solução de glicose e frutose 4 dias antes, durante e 4 dias após a irradiação. O peso corporal e o consumo de comida e bebida foram mensurados ao longo do protocolo experimental. O sangue foi coletado 2 meses após a irradiação e a as mandíbulas foram dissecadas para a realização de análises morfométricas e histológicas. Os ratos do grupo irradiado e trato com o suco (RJ) perderam menos peso corporal quando comparados com os animais do grupo controle irradiado (RG). O grupo RJ ingeriu mais comida e bebida que o RG. Após a irradiação todos os animais cresceram até o 61º dia. Entretanto, a partir deste momento os animais irradiados começaram a perder peso em comparação aos controles. A perda de peso foi relacionada à osteorradionecrose de mandíbula. Medidas realizadas na mandíbula mostram que os animais do grupo RG perderam peso devido a uma hipofunção mastigatória. A microscopia revelou elevada atividade osteoclástica e processo inflamatório nas mandíbulas dos ratos irradiados. O SUO também aumentou a contagem leucócitos e glóbulos vermelhos no grupo irradiado e suplementado com suco. Embora, o suco não tenha restaurado completamente as alterações induzidas pela irradiação cranial, essa bebida rica em antioxidante pode ser indicada para utilização com vistas a atenuação dos efeitos secundários da irradiação cranial. De modo geral os resultados sugerem benefício líquido para os animais quando da ingestão do SUO como agente radiomodificador positivo para exposição à radiação ionizante.
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