Biologia reprodutiva e seleção dos sítios de nidificação do coleiro-do-brejo (Sporophila collaris) nos campos do sul do Brasil
Resumo
No Rio Grande do Sul, estão presentes mosaicos de ambientes campestres, dentre estes destacam-se os Campos
Subtropicais. Dentre a avifauna descrita para o estado, cerca de 120 espécies são adaptadas a viverem em ambientes
campestres, como os pequenos papa-capins (aves do gênero Sporophila). Sporophila collaris – coleiro-do-brejo
possui uma distribuição meridional, onde habita ambientes de áreas úmidas. Trabalhos de biologia básica com o
gênero Sporophila, vem crescendo e acrescentando conhecimento desde a última década, porém dados de biologia
reprodutiva para determinadas espécies ainda são escassos. O objetivo deste estudo é apresentar características e
informações sobre a biologia reprodutiva, tamanhos de territórios e seleção de sítios de nidificação para o coleirodo-
brejo. O estudo foi conduzido nos municípios de Santa Maria e Manoel Viana, no estado do Rio Grande do
Sul. As buscas de sítios de nidificação e procura dos ninhos foram feitas durante uma estação reprodutiva
(2015/2016) e seguiram o método de busca ativa. Ninhos encontrados foram marcados com uma fita a uma
distância de 5 m e os territórios reprodutivos foram georreferenciados com GPS. Definimos o comprimento da
estação reprodutiva, tamanho de ninhada, cuidado parental, calculamos o sucesso reprodutivo para três métodos
(aparente, Mayfield e com programa MARK), registramos múltiplas tentativas de renidificação e estimamos o
tamanho dos territórios. Encontramos 52 ninhos, 26 na fase de construção, 21 durante a incubação e cinco na fase
de ninhego. O período reprodutivo foi estimado em 203 dias (oito meses). Somente a fêmea constrói o ninho e
incuba os ovos. O período de incubação dura em média 12,78 ± 0,74 dias e o tempo de permanência dos ninhegos
é de 11,14 ± 0,78 dias no ninho. As ninhadas registradas foram em maior frequência de dois ovos (54%), seguidas
por três ovos (37%) e um ovo (10%), com tamanho médio de 2,27 ± 0,54 ovos. O cuidado da prole é biparental,
com macho e fêmea desenvolvendo as atividades de cuidados, porém as fêmeas em maior frequência que os
machos. O sucesso aparente calculado foi de 25,0% (n = 13 ninhos). O sucesso reprodutivo calculado através do
método de Mayfield foi de 13,43% e a TSD calculada com o programa MARK foi de 0,947 ± 0,01 (n = 36 ninhos),
gerando uma probabilidade de sobrevivência de 28,9%. Dos 32 casais encontrados, 23 (72%), apresentaram pelo
menos um registro de nidificação e nove destes (28%) tiveram no mínimo duas tentativas de nidificação. O
tamanho médio dos territórios foi de 1,46 ± 0,84 ha e das áreas de vida foi de 4,17 ± 2,38 ha. A maioria dos casais
56% (n = 18) utilizaram ambientes úmidos como sítios de nidificação, 25% (n = 8) ambientes secos e 19% (n = 6)
utilizaram banhados. Informações sobre a história natural com foco em biologia reprodutiva podem ser úteis como
ferramentas para a conservação deste grupo. Assim, sugerimos que o coleiro-do-brejo sirva de modelo para
pesquisas futuras nas quais auxiliem no entendimento de ciclos reprodutivos e migratórios para o gênero
Sporophila, tal como entender porque muitas espécies deste gênero são tão severamente afetadas pela perda e
fragmentação de seus hábitats naturais.
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