Potencial antiaterogênico da bixina in vivo e in vitro
Resumo
A aterosclerose é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo de lipídeos e elementos fibrosos na túnica
íntima das artérias de médio e grande calibre. A inflamação, o estresse oxidativo e a modificação oxidativa da
lipoproteína de baixa densidade (LDL) possuem um papel importante no desenvolvimento dessa doença. Assim,
a inclusão de antioxidantes na dieta poderia modular o início e a progressão da aterosclerose. O carotenoide
bixina, presente nas sementes de urucum, possui excelente atividade antioxidante já demonstrada em diversos
modelos de dano oxidativo. Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar o potencial antiaterogênico da
bixina e os mecanismos envolvidos neste efeito em modelos in vivo e in vitro. Primeiramente avaliou-se a
administração de uma dieta aterogênica (0,5% de colesterol) sozinha ou suplementada com bixina (10, 30 ou 100
mg/kg) ou sinvastatina (15 mg/kg) por 60 dias em coelhos Nova Zelândia. A dieta aterogênica aumentou os
níveis séricos de lipídios, além de induzir oxidação lipídica (TBARS) no tecido aórtico. A suplementação com
bixina ou sinvastatina (medicamento hipocolesterolemiante de referência) atenuou o aumento induzido pela dieta
aterogênica nos níveis de triglicerídeos séricos e nos níveis de TBARS no tecido aórtico e somente a bixina foi
capaz de melhorar o índice aterogênico e aumentar os níveis de lipoproteína de alta densidade (HDL). A
suplementação com bixina ou sinvastatina restaurou as alterações nos níveis de NPSH e na atividade das
enzimas antioxidantes induzidas pela dieta aterogênica. A bixina reduziu os níveis séricos de interleucina 6 (IL-
6), fator de necrose tumoral (TNF-α) e a razão entre a espessura da íntima e da média no arco aórtico. Assim, o
efeito antiaterosclerótico da bixina in vivo parece estar está associado a uma melhora no perfil lipídico,
diminuição do estresse oxidativo e da resposta inflamatória, bem como prevenção de alterações no sistema
antioxidante. Considerando o efeito promissor da bixina in vivo, na segunda parte deste estudo investigou-se in
vitro os possíveis mecanismos relacionados ao efeito antiaterogênico da bixina, como: o potencial para prevenir
a oxidação da LDL e os efeitos citotóxicos da LDL oxidada (LDLox) em macrófagos cultivados. A bixina inibiu
de modo concentração-dependente a oxidação lipídica e proteica da LDL humana isolada, sendo mais potente
que o licopeno. A partir de 0,1 μM, a bixina preveniu a fragmentação da apolipoproteína B-100 (apo B-100),
avaliada através da destruição do triptofano, e a partir de 2.5 μM causou inibição significativa na formação de
dienos conjugados, demostrando que a bixina possui efeitos antioxidantes diretos. Considerando o envolvimento
da LDLox na patogênese da aterosclerose, investigamos o efeito protetor da bixina sobre danos citotóxicos
induzidos pela exposição de macrófagos J774A.1 à LDLox (100 μg/mL). O pré-tratamento por 24 h com bixina
reduziu os efeitos citotóxicos desencadeados pela LDLox em macrófagos J774A.1 in vitro, incluindo: a geração
de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, distúrbio na homeostase do óxido nítrico, disfunção mitocondrial,
depleção de glutationa e formação de células espumosas. Os prováveis mecanismos da bixina sobre vias de
sinalização também foram investigados em cultura de macrófagos, demostrando que os efeitos antiaterogênico
da bixina estão relacionados com a modulação das vias antioxidante e anti-inflamatória, através da ativação do
Nrf2 e inativação do NFκB. Tomados em conjunto, os resultados deste estudo indicam que os efeitos
antiaterogênicos da bixina estão relacionados a prevenção da oxidação da LDL, melhora do perfil lipídico e do
equilíbrio redox celular, além de ação anti-inflamatória e redução na formação das células espumosas e das
lesões ateroscleróticas. Esses dados sugerem um novo papel para o carotenoide bixina como potencial agente
antiaterogênico.
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