Etnoictiologia nas bacias dos rios Uruguai e Jacuí, Rio Grande do Sul, Brasil
Resumo
A etnoictiologia procura compreender o fenômeno da interação entre a espécie humana e os
peixes, englobando aspectos tanto cognitivos quanto comportamentais. Desta forma, o
presente estudo tem como objetivos gerais analisar e comparar a pesca artesanal nas
comunidades de pescadores das bacias hidrográficas dos rios Uruguai e Jacuí e registrar a
percepção dos pescadores profissionais diante da proibição da pesca do dourado (Salminus
brasiliensis) no Rio Grande do Sul, além de comparar as respectivas percepções dos
pescadores entre as bacias hidrográficas. A coleta dos dados foi realizada por meio de
entrevistas, através de questionários semi-estruturados e padronizados, onde foram obtidas
informações, por exemplo: dados socioeconômicos dos pescadores, aspectos gerais da
pesca, situação atual dos recursos pesqueiros e das espécies presentes nestas bacias
hidrográficas e questões relacionadas ao S. brasiliensis. Participaram desta pesquisa 77
pescadores distribuídos em quatro municípios em cada bacia hidrográfica, totalizando 154
participantes. Nestas comunidades a pesca artesanal é a principal atividade econômica, a
qual garante o sustento e a segurança alimentar destas famílias. Segundo relatos dos
pescadores entrevistados, foram registradas 15 espécies de peixes de interesse comercial
na bacia hidrográfica do rio Uruguai e 13 espécies na bacia hidrográfica do rio Jacuí, dentre
elas as espécies Leporinus obtusidens, Prochilodus lineatus, Pimelodus pintado e
Pimelodus maculatus. Os pescadores participantes da pesquisa mostraram grande
conhecimento sobre os recursos pesqueiros e preocupação diante da situação em que se
encontram estes recursos, principalmente na bacia hidrográfica do rio Jacuí. A atividade
pesqueira nestas bacias vem sofrendo com a acentuada diminuição do pescado de um
modo geral, causado por ações de origem antrópicas, entre as quais se destaca a
degradação ambiental, causada principalmente, segundo ranqueamento realizado pelos
pescadores, pela pesca ilegal, poluição agrícola e doméstica, construção de barragens
hidrelétricas na bacia hidrográfica do rio Uruguai e mineração na bacia hidrográfica do rio
Jacuí. Diante da proibição da pesca do dourado (Salminus brasiliensis) a percepção dos
pescadores foi diferente entre as duas bacias hidrográficas. A medida de proteção resultou
no aumento populacional da espécie, segundo 82% dos pescadores da bacia hidrográfica
do rio Uruguai. Já na bacia hidrográfica do rio Jacuí 58% dos pescadores acredita que a
medida não foi eficaz, pois segundo eles, não houve um aumento populacional da espécie
nesta bacia hidrográfica. Os motivos por esta população ainda estar em perigo, segundo os
pescadores, possivelmente está relacionado à pesca ilegal da espécie e a fiscalização
ineficiente. No entanto as causas que estão afetando a população desta espécie devem ser
estudadas. Diante do exposto algumas medidas como repovoamento e fiscalização
eficiente, foram sugeridas pelos pescadores, a fim de amenizar a decadência dos recursos
pesqueiros e garantir a conservação das espécies que compõem estes recursos.
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