O consumo de gordura trans durante a gestação e lactação de ratas modifica parâmetros de adição à morfina dos filhotes durante a adolescência
Resumo
O consumo de alimentos processados, ricos em gorduras saturadas e trans, pode modificar a composição fosfolipídica das membranas neurais, alterando sua plasticidade e neurotransmissão, já que os ácidos graxos (AG) que as compõe provêm da dieta, especialmente durante o período do desenvolvimento cerebral. Estudos têm mostrado que o consumo crônico de gordura trans durante as fases iniciais da vida pode facilitar o desenvolvimento de adição à drogas psicoestimulantes. Por outro lado, o gênero, que já mostrou diferenças nas respostas comportamentais e neuroquímicas frente à drogas aditivas, também têm mostrado alguma influência sobre o desenvolvimento de adição, porém os dados mostram controvérsias. Nos últimos anos, a adição a opioides têm se tornado um grave problema de saúde pública, já que o número de adictos e de mortes por overdose têm crescido de forma alarmante. O objetivo deste estudo foi avaliar a influência da ingestão materna de gordura vegetal hidrogenada (GVH), rica em AG trans, durante os períodos de gestação e lactação sobre parâmetros de ansiedade e de adição à morfina (4 mg/kg), um reconhecido opioide de uso clínico, nos filhotes de ratos machos e fêmeas adolescentes. Também, avaliou-se a geração de espécies reativas (ER) em áreas cerebrais envolvidas na adição. Os resultados obtidos mostraram que as fêmeas do grupo GVH apresentaram maior preferência por morfina e menor comportamento de ansiedade, quando comparadas aos machos do mesmo grupo experimental. Além disso, observou-se que a suplementação de GVH em ambos os sexos aumentou per se a geração de ER na área tegmental ventral (ATV), enquanto que a administração da morfina não modificou este parâmetro oxidativo. Após a administração de morfina, somente as fêmeas do grupo GVH apresentaram níveis aumentados de ER no hipocampo, quando comparadas aos machos. A partir destes resultados, podemos sugerir que o gênero pode ser considerado um fator de predisposição para o desenvolvimento de adição à opioides, visto que as fêmeas mostraram maior preferência pela droga. Além disso, o consumo materno de gordura trans nos períodos de desenvolvimento dos filhotes também modificou os parâmetros de adição à morfina, possivelmente devido a incorporação de AG trans nos fosfolipídios das membranas neurais do cérebro, afetando o sistema opioide e o status oxidativo em áreas cerebrais relacionadas à adição.
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