Um conto sobre a agressividade: valor de recurso, tomada de decisão e adaptações morfológicas
Resumo
Confronto agonístico é um fenômeno ubíquo na natureza. Dada sua abrangência, entender como e o porquê ela ocorre é essencial para entendermos sua influência na evolução do comportamento. Os objetivos desta tese são: testar a influência de ciclos ambientais previsíveis nos confrontos, quais regras os crustáceos utilizam para continuar ou desistir de um confronto e as adaptações morfológicas que fazem armamentos eficientes. Duas variáveis são comumente utilizadas para determinar a motivação do animal para brigar: o valor do recurso e os custos da agressão. Apesar de bem estudadas, não há informações sobre como ciclos ambientais previsíveis influenciam essas variáveis. Por isso, no primeiro capítulo testamos a influência das marés no comportamento agressivo da anêmona do mar Actinia equina. Simulamos um ambiente de marés no laboratório, expondo algumas anêmonas ao fluxo de água e outras não, confrontando-os. Para aferirmos o valor do recurso, mensuramos o tempo da resposta de fuga. Nossos resultados sugerem que áreas com fluxo são mais valiosas, pois indivíduos nesses ambientes tiveram: tempo de resposta de fuga menor, maior probabilidade de vitória e confrontos mais longos. Contudo, esses indivíduos também são menos propensos a escalar o confronto, sugerindo também um aumento nos custos do confronto. Entender que tipo de regras os animais utilizam para permanecer ou desistir em um confronto são essenciais para entendermos a evolução desse comportamento. Dois modelos teóricos explicam essa decisão: um no qual o animal utiliza apenas informação sobre si mesmo; e outro que prediz que os animais comparam a própria habilidade de luta com a do oponente. Para testar isso no segundo capítulo, primeiro testamos quais variáveis morfológicas e de performance auxiliam um animal a vencer um confronto. Após, testamos qual modelo explica melhor confrontos entre machos de Aegla longirostri. Nossos resultados indicam que tamanho corporal e tamanho do quelípodo são importantes para determinar quem vence. Quanto à decisão de desistir do confronto, os caranguejos aparentemente utilizam uma mistura desses dois modelos, pois os confrontos corroboram tanto predições quantitativas do modelo de comparação quanto predições do modelo sem comparação. Armamentos são utilizados em confrontos para subjugar oponentes. Dado seu papel, ter um armamento eficiente pode aumentar o sucesso reprodutivo do animal. Segundo a teoria, essa eficiência tem um custo: quanto maior a eficiência menor a variabilidade de formas de um armamento quando comparado a uma estrutura mista (i.e. que é utilizada como armamento e ornamento). No terceiro capítulo, nós investigamos a relação forma com a performance do quelípodo de três espécies de Aegla com diferentes funções: uma apenas para lutas (A. longirostri), outra para lutas e sinalização (Aegla abtao) e outra somente para alimentação (Aegla denticulata). Nossos dados corroboram a teoria: quelípodos para luta são biomecanicamente eficientes, mas sua forma é pouco variável, enquanto o quelípodo misto (A. abtao) também é biomecanicamente eficiente, porém a forma é mais variável. Em suma, demonstramos que flutuações ambientais previsíveis são importantes para confrontos, que os modelos teóricos de briga precisam ser repensados e que a restrição biomecânica dos armamentos previne que aumentem a sua variabilidade morfológica.
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