Suicídio de fumicultores familiares: construções de um problema social
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2019-06-04Metadatos
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Nesta tese analiso processos de construção social de suicídios de fumicultores familiares no Vale
do Rio Pardo, Rio Grande do Sul, Brasil, ponderando, particularmente, sobre as interferências de
membros das instituições sociais família, comunidade, agroindústria fumageira, extensão rural,
saúde pública, igreja cristã, imprensa regional e organização não governamental especializada na
prevenção de suicídios. O aporte teórico-metodológico está fundamentado no construtivismo
estruturalista do sociólogo Pierre Bourdieu, com ênfase nas proposições sobre como os
fenômenos são socialmente construídos por meio da dialética entre exterioridade e interioridade,
valorizando circunstâncias sociais dos suicídios dos fumicultores familiares. O estudo foi
conduzido como estudo de caso, realizado em município do Vale do Rio Pardo selecionado devido
à relevância socioeconômica da fumicultura e elevada taxa de suicídios. De natureza qualitativa,
foram coletados dados primários e secundários por meio de bibliografias, documentos, entrevistas
e observações. As entrevistas semiestruturadas foram o instrumento de coleta de dados mais
relevante. Os resultados apontaram contribuições da Sociologia para desnaturalizar o fenômeno
do suicídio, ao evidenciar as múltiplas interferências materiais e simbólicas de circunstâncias
sociais, reconhecendo-o como um problema sociológico e não apenas biológico. Contudo, em
razão da dicotomia entre áreas rurais e urbanas, a Sociologia Rural demorou a assimilar o
fenômeno do suicídio a partir das interferências plurais dos modos de vida e condições de trabalho
nas áreas rurais. As famílias e comunidades de fumicultores reproduzem um habitus sustentado
em valores morais da economia e do trabalho, que em determinadas circunstâncias pessoais e
profissionais adversas desencadeiam processos de sofrimento social, convenientes ao suicídio,
principalmente entre os homens. Na perspectiva de representantes da agroindústria fumageira, os
suicídios são atrelados a problemas individuais de saúde, negaceando as possíveis associações
entre condições de trabalho, sofrimento e morte. Os extensionistas rurais foram estimulados a
participar de processos de diversificação produtiva em áreas de cultivo do tabaco, que
contribuíram para desencadear uma crise identitária causadora de sofrimento social entre os
fumicultores, dado o combate de sua principal atividade econômica. Os agentes de saúde pública
são os mais atuantes na prevenção dos suicídios, mas, fundamentando-se em referenciais
fisiológico-psicológicos, nem sempre conseguem desnaturalizar os riscos ocupacionais
decorrentes do uso de agrotóxicos e dos processos de dominação e precarização das relações de
trabalho na fumicultura. Já autoridades religiosas católicas e luteranas, mesmo entendendo o
suicídio como pecado, atuam no acolhimento das famílias e comunidades de fumicultores com
vistas à prevenção. Os membros da imprensa regional, subsidiária dos recursos da agroindústria
fumageira, adotam como orientação jornalística não noticiar os casos de suicídio, contribuindo
com o encobrimento do problema social. Os voluntários da organização não governamental
especializada na prevenção, utilizando referenciais psicológicos de escuta solidária, têm
dificuldade de alcançar as áreas rurais devido à deficiente infraestrutura de telefonia e do habitus
dos fumicultores, de controlar os sentimentos. Conclui-se que, no Vale do Rio Pardo, o problema
do suicídio está envolto em um campo de disputas de diferentes práticas e representações, nas
quais as instituições sociais envolvidas tentam preservar seus próprios interesses, muitas vezes
em detrimento da vida dos fumicultores familiares.
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