Efeito do Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville em marcadores inflamatórios e proliferativos da cicatrização de feridas: um modelo bi-celular in vitro
Resumo
A pele é o maior órgão do corpo humano e atua como uma barreira de proteção do corpo ao meio ambiente. O rompimento da sua integridade provocado por uma lesão culmina na ativação de um processo complexo de cicatrização, que busca o fechamento da área lesionada e envolve três etapas sobrepostas ao longo do tempo: inflamatória, proliferativa e de remodelação. Muitas vezes, o processo de cicatrização não é eficiente, necessitando fazer-se uso de fármacos ou fitoterápicos auxiliares. Uma planta medicinal que apresenta importante propriedade cicatrizante é o Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville, popularmente conhecido como barbatimão e nativo do bioma Cerrado brasileiro. No entanto, ainda não está claro de que maneira esta planta atua sobre as etapas do processo cicatricial. Dentro deste contexto, o presente estudo objetivou avaliar o efeito in vitro do Stryphnodendron adstringens na modulação de marcadores inflamatórios e proliferativos do processo de cicatrização de feridas. Para isso, foi desenvolvido um modelo experimental bi-celular independente utilizando as linhagens celulares comerciais de macrófagos (RAW 264.7) e fibroblastos dérmicos (HFF-1). As células foram mantidas em cultivo celular separadamente, sob condições de esterilidade a 37ºC e a 5% de CO2. Os macrófagos foram ativados com o agente mitogênico fitohemaglutinina (PHA) e, após 24 horas, foram tratados com diferentes concentrações do extrato da casca de barbatimão (0,24; 0,49; 0,99; 1,99; 3,98 mg/mL). Após 72 horas, foi avaliada a proliferação celular, através do teste do brometo de 3-[4,5-dimetiltiazol-2-il]-2,5-difeniltetrazólio (MTT). Com o resultado deste teste, foram definidas as concentrações de 0,49 e 0,99 mg/mL do extrato de barbatimão para serem utilizadas nas análises subsequentes. Avaliou-se, então, após 72 horas de tratamento com ambas as concentrações, o efeito da planta sobre os níveis proteicos (via imunoensaio) e os níveis de expressão gênica (via Quantitative reverse transcriptase polymerase chain reaction (qRT-PCR)) das citocinas pró-inflamatórias interleucina um beta (IL-1β), interleucina seis (IL-6), fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), interferon gama (IFN-ү) e da citocina anti-inflamatória interleucina dez (IL-10) em macrófagos ativados e não ativados, para a investigação da fase inflamatória. Um protocolo adicional, que imita processos cicatriciais in vitro, também foi utilizado. Para isso, culturas de fibroblastos com 80% de confluência de monocamada foram rasgadas com o auxílio de uma ponteira de 200 μL, para mimetizar uma lesão e, posteriormente, estas células foram tratadas com ambas as concentrações do extrato de barbatimão. Então, após 24 e 72 horas de tratamento, foram analisados os níveis do fator de crescimento de fibroblastos um (FGF-1) e do fator de crescimento de queratinócitos (KGF) em fibroblastos rasgados e íntegros, para avaliar o estado proliferativo. Os resultados mostraram efeito anti-inflamatório do barbatimão sobre os macrófagos ativados, via diminuição dos níveis proteicos e dos níveis de expressão gênica das citocinas pró-inflamatórias e aumento dos níveis da citocina anti-inflamatória IL-10. Além disso, o barbatimão também aumentou os níveis de ambos os fatores de crescimento em fibroblastos rasgados e íntegros, após 24 e 72 horas de tratamento. Apesar das limitações metodológicas relacionadas aos estudos in vitro, os resultados indicam que o barbatimão possui uma ação efetiva na modulação inflamatória de macrófagos, assim como é capaz de induzir o aumento dos níveis dos fatores de crescimento relacionados a eventos proliferativos de fibroblastos durante o processo de cicatrização de feridas.
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: