Prevalência do autorrelato da qualidade auditiva e seu impacto na sobrevivência de idosos ribeirinhos de Maués - AM
Resumo
O envelhecimento humano está associado a progressão de disfunções fisiológicas e ao risco de desenvolvimento de doenças crônicas não-transmissíveis (DCNTs). Entre as alterações degenerativas que mais acometem os idosos e que pode comprometer a sua interação social e como cognição, está a perda auditiva (presbiacusia). A presbiacusia é desencadeada a partir da degeneração progressiva da parte sensorial, neural, estrial e das células que dão suporte a cóclea. Considerando que esta é uma das principais causas da perda auditiva em idosos, estudos nesse âmbito são de extrema importância. Evidências mostraram que idosos ribeirinhos que vivem no município de Maués apresentam uma prevalência menor e DCNTs, como doenças cardiovasculares e síndrome metabólica quando comparada com a população que vive em Manaus, que é altamente urbanizada e a capital do Estado do Amazonas. Entretanto, estudos sobre o impacto da saúde auditiva na qualidade de vida dos idosos ribeirinhos ainda não foram produzidos. Assim, o objetivo desse estudo foi determinar a prevalência da qualidade auditiva e o seu impacto na sobrevivência dos idosos ribeirinhos de Maués-AM. Informações de um banco de dados organizado em Julho de 2009 via entrevista estruturada foi utilizada para identificar indicadores socioeconômicos, culturais e de saúde incluindo o autorrelato da saúde, memória, audição e visão, e a sobrevivência dos idosos em um período de 84 meses de segmento. Um total de 540 idosos participaram do estudo, com idade média de 72,3 + 7,8 anos. A maioria dos idosos relatou ouvir bem ou muito bem, os idosos jovens (60 a 74 anos) relataram menor frequência de audição ruim (7,6%), quando comprado com os idosos longevos (>75 anos) (15,8%). Do total dos idosos investigados 107 (19,8%) foram a óbito. Como seria esperado a idade influenciou na mortalidade, apenas 11,9% dos idosos jovens morreram, enquanto 24,8% dos idosos longevos não sobreviveram no período investigado. Dos idosos que autorelataram audição ruim 20,6% (n=22) foram a óbito, enquanto que apenas 10,6% (n=46) dos idosos que relataram audição regular ou boa faleceram ao longo dos sete anos de seguimento. Análise multivariada mostrou que esta diferença foi significativa (p=0,007) e independente de sexo, idade e morbidades prévias. Dessa forma, os resultados do presente estudo sugeriram que o autorrelato da condição auditiva impacta mais na sobrevivência dos idosos ribeirinhos do que outros fatores sociais e clínicos. Estes resultados também condizem com relatos epidemiológicos presentes na literatura científica que também descreveram impacto negativo da audição ruim na sobrevivência dos idosos. Uma explicação para o maior risco de mortalidade associado a audição ruim é o fato de que populações tradicionais, como as ribeirinhas estão fortemente baseadas na transmissão oral do conhecimento. Por exemplo, a grande maioria dos idosos ribeirinhos não tem ou tem pouca escolaridade, e no interior do Amazonas o principal meio de comunicação de massa utilizado é ainda o rádio de pilha e as vozes comunitárias, e não a televisão ou a leitura de jornais, revistas, livros ou mesmo de textos na internet. Assim os resultados aqui descritos reforçam que a audição é um sentido que tem grande impacto nas comunidades tradicionais que vivem no interior da floresta Amazônica.
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