Diálogos entre acolhimento institucional e psicologia social crítica
Resumo
As atenções que voltamos para crianças parecem naturais, mas a concepção “da infância” que hoje temos advém de uma construção iniciada na modernidade europeia. No Brasil, ações direcionadas às infâncias remontam ao período colonial. Desde lá, diferentes equipamentos foram elaborados, sendo perpassados por elementos étnico-raciais dos sujeitos que os criaram. Isto posto, somado à experiência de trabalho da autora na política de Acolhimento Institucional entre julho de 2015 e fevereiro de 2017 no interior do Rio Grande do Sul, surge a motivação desta escrita. Ela é dividida em dois eixos. No primeiro, consideramos a tradição normativa e elitista de atuação em Psicologia em nosso país e buscamos refletir sobre modos de agir de forma contextualizada e comprometida com a busca por justiça social, sobretudo diante do histórico de exploração dos povos na América Latina. Para tal, apresentamos a possibilidade de inserir vírgulas entretecidas historicamente. Identificamos colonialidades que atravessam instituições e práticas, ilustradas em cenas do Acolhimento registradas em Diário de Campo (elaborado durante o supracitado período de trabalho na instituição). Percebemos, assim, que existem efeitos de antigas questões étnico-raciais nas atuais demandas de trabalho do local. Os meios para lidar com essas questões demandam, fundamentalmente, que nos apropriemos de nossa história e reconheçamos ideais dela advindas, além de haver o desafio de produzir encontros dialógicos em equipe. No segundo eixo, analisamos a construção de sentidos sobre o Acolhimento com cuidadoras, seu contexto de produção e as suas engrenagens representacionais, bem como as condições que convocam e possibilitam diálogos entre os saberes acadêmicos e o distinto campo do conhecimento das cuidadoras. Para tal, foram realizadas Rodas de Conversa e observações participantes, além da continuidade dos registros em Diário de Campo. Nas análises, apoiamo-nos na Teoria das Representações Sociais e Estudos de Gênero. Percebemos que o contexto de produção dos sentidos atribuídos ao trabalho das cuidadoras é entrelaçado a um lugar de alteridade radical dirigido às infâncias e adolescências a. Seus saberes, imbricados em construções étnico-raciais e de gênero, engendram modos de acolher. Por fim, verificou-se a possibilidade de encontros dialógicos, desde que haja legitimação da diferença e compreensão de que existem formas múltiplas de saber. Isto é, abrindo mão do lugar estável que a ciência ocupa na imaginária e hierárquica escala do conhecimento.
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: