Impacto do autorrelato exercício físico na mortalidade de idosos ribeirinhos de Maués-AM no período de 2009 a 2017
Resumo
Uma grande parte das populações humanas está vivenciando processo de envelhecimento, incluindo aqueles que vivem em regiões com pouco acesso a serviços de saúde e peculiaridades socioecológicas, como pessoas ribeirinhas que vivem na floresta amazônica. Um estudo anterior realizado em idosos ribeirinhos sugeriu que eles tinham aptidão funcional satisfatória e um perfil de saúde com menor prevalência de doenças crônicas não transmissíveis em comparação com populações que vivem em regiões mais desenvolvidas do Brasil. Como a grande maioria dos idosos que vivem na chamada área urbana de Maués, que concentra alguns serviços sociais e de saúde básicos, mudou-se para este local devido à dificuldade de morar sozinho na floresta, é possível que essa mudança tenha impacto sobre os indicadores de estilo de vida dessa população, influenciando a carga de morbidade e mortalidade. Para testar esta hipótese, foi realizado um estudo de seguimento prospectivo de 8 anos testando o impacto do autorrelato do exercício físico na mortalidade desses indivíduos. Para a realização do estudo, do banco original de dados coletados foram agregadas informações sobre a sobrevivência dos idosos a partir de informações obtidas da Secretaria de Saúde do Município de Maués sobre óbitos ocorridos a cada semestre, a partir de agosto de 2009 até julho de 2017. Na listagem foram identificados idosos participantes do estudo que faleceram no período, e a principal causa do óbito identificada através do código internacional das doenças (CID-10). De posse destes dados, foi calculado o tempo de sobrevivência de cada idoso (em meses). No caso, os idosos que estavam vivos após 8 anos eram identificados por apresentarem 96 meses de sobrevivência. A partir da obtenção destes dados foi possível calcular se o autorrelato de realização de exercício poderia ter impacto na sobrevivência desses idosos através de análise da curva de sobrevivência de Kaplan Meier. A potencial influência de outras variáveis como o sexo, idade, morbidades prévias e consumo habitual de guaraná (paullinia cupana), que é altamente prevalente naquela população, foi avaliada através de análise multivariada de regressão logística (método Backward Wald). O estudo incluiu 540 indivíduos (72,3 ± 7,9 anos, 248 (45,9%) homens e 292 (54,1%) mulheres. No período, 108 (20%) indivíduos morreram e 432 (80%) sobreviveram. Idosos que relataram realizar exercícios físicos regulares apresentaram menor mortalidade que os que não realizaram (p = 0,021). Além disso, como esperado, os idosos mais jovens sobreviveram mais que os idosos mais velhos. No entanto, a associação entre exercício físico regular e sobrevida em um seguimento de 8 anos foi independente de sexo, idade e outras variáveis de saúde. A totalidade dos resultados sugere que o impacto do exercício físico na longevidade dos idosos é universal e não depende de características genéticas, éticas e socioeconômicas específicas de cada sociedade.
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