Fatores de risco para a incidência de lesões de cárie em crianças e indicações para o uso de selantes em primeiros molares permanentes.
Resumo
O desenvolvimento de lesões de cárie em primeiros molares permanentes vem sendo estudado
há muito tempo. Embora se reconheça o papel de determinantes individuais e contextuais sobre
a saúde bucal, quando se considera os determinantes e fatores de risco distais para a incidência
de cárie em primeiros molares permanentes os estudos são ainda inconclusivos. O objetivo
desse estudo de coorte foi avaliar o impacto de fatores individuais e contextuais, da primeira
infância, sobre a incidência de cárie em primeiros molares permanentes. Além disso, buscouse
identificar, a acurácia e eficiência de características que possam ser utilizadas como
parâmetro para a indicação de selantes em primeiros molares permanentes. Este estudo com
sete anos de acompanhamento foi realizado com 639 crianças entre 1 e 5 anos que foram
avaliadas inicialmente em um levantamento conduzido em 2010. A cárie dentária foi avaliada
por meio do International Caries Detection Assessment System (ICDAS) tanto no baseline
quanto no acompanhamento. Variáveis contextuais e individuais foram coletadas no início do
estudo e incluíram a presença de centros comunitários culturais no bairro onde a criança residia
e características demográficas, socioeconômicas, psicossociais e biológicas. No artigo 1, um
modelo multinível de regressão de Poisson foi utilizado para investigar o impacto de
características individuais e contextuais na incidência de cárie em primeiros molares
permanentes. Com essa abordagem foi possível estimar a taxa de incidência (IRR) e os
intervalos de confiança de 95% (IC95%). Do total de crianças avaliados no baseline, 449 foram
reavaliadas após sete anos (taxa de retenção na coorte de 70,3%). Crianças que moravam em
bairros com centros culturais comunitários foram protegidas de desenvolver lesões de cárie em
primeiros molares (IRR 0,78; IC95% 0,62-0,99); por outro lado, menor renda familiar (IRR
1,34; IC95% 1,03-1,76) e percepção dos pais ruim em relação à saúde dos filhos (IRR1,56;
IC95% 1,18-2,06), foram associadas ao maior risco para cárie. Para o segundo artigo desta tese
4 variáveis dicotômicas foram construídas (experiência de cárie, escolaridade materna, renda
familiar e percepção dos pais em relação à saúde bucal dos filhos) para avaliar a capacidade
preditiva de cárie em primeiros molares permanentes. Acurácia (por meio de valores de
sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e negativo) e eficiência (representada
pelo número necessário para tratar - NNT) dessas variáveis foram, também, verificadas quando
utilizadas como indicadores para o uso de selantes. Experiência de cárie, menor escolaridade
materna, menor renda familiar e pior percepção dos pais sobre a saúde dos filhos, avaliados no
baseline apresentaram alta acurácia para identificar crianças que não precisam do uso de
selantes; no entanto falharam ao identificar crianças que se beneficiariam com a indicação de
tal estratégia. Além disso, ao avaliar o número necessário para tratar, todas as variáveis
avaliadas mostraram valores aceitáveis (NNT≤ 11), considerando que a cárie é uma condição
crônica e de caráter cumulativo. Nesse sentido, estratégias que considerem grupos de maior
risco poderiam ser implementadas em conjunto a estratégias amplas que considerem os
determinantes sociais e fatores de risco comum promovendo, assim, maior redução na
incidência de cárie na infância.
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