Trabalho docente e aprendizagem no ensino médio em uma escola pública no interior do RS
Resumo
Buscamos com esta pesquisa compreender como professores organizam e desenvolvem seu trabalho, diante das condições encontradas nos contextos reais, para efetivar a aprendizagem dos alunos em uma escola da Rede Escolar Pública Estadual do RS. Para tanto, nos propusemos a responder ao seguinte problema de pesquisa: “Como quatro professoras do Ensino Médio descrevem as relações entre o seu trabalho e a aprendizagem dos alunos”? Para isso, desdobramos o problema em quatro questões: (1) Como o professor organiza o tempo, os recursos e os espaços pedagógicos para promover a aprendizagem dos alunos? (2) Que elementos interferem na organização e no desenvolvimento do trabalho docente? (3) Que desafios são enfrentados por professores do ensino médio no desenvolvimento de seu trabalho? (4) Quais são as aprendizagens definidas pelos professores para seus alunos? Foram realizadas entrevistas com quatro professoras regentes do ensino médio e foram realizadas observações de suas aulas. Pelas análises, podemos afirmar os seguintes resultados: o trabalho docente foi impactado pelas condições precárias de trabalho disponibilizadas no contexto escolar pesquisado e se caracteriza por investimentos pessoais que sobrecarregam o professor; o tempo disponibilizado para o planejamento está sendo insuficiente, diante do conjunto significativo de ações e atividades inerentes a essa tarefa. Alguns aspectos ajudam a explicar tal situação: a diversidade de alunos, a diversidade de turmas atendidas por cada professora, a necessidade de atender mais de uma disciplina, a presença de alunos com dificuldades de aprendizagem, relacionamentos, dentre outros; os planejamentos das professoras vem sendo realizado, fundamentalmente, nas suas residências, sem limites de tempo precisos, devido, essencialmente, a dois fatores: a indisponibilidade de tempo significativo dentro da escola e dentro da sua carga horária de contrato para realização dessa tarefa e a inexistência de espaços adequados para tanto dentro da escola. Por envolver um conjunto significativo de ações, que demandam um trabalho mental e intelectual, é difícil mensurar precisamente quanto tempo é gasto para planejamento. Como consequência, parte dessas ações não parece ser registrada, nem considerada, nem contabilizada como trabalho, de modo que o rótulo “horas de planejamento” acaba ocultando a variedade de ações e a complexidade própria do trabalho docente. Soma-se a isso o fato de que a escola de educação básica pesquisada está preparada apenas para o desenvolvimento do trabalho didático com alunos, mas não está preparada para que o professor possa realizar todas as componentes do trabalho docente, dentre elas o planejamento; a realização de trocas de experiência entre colegas professores ocorre de modo improvisado, antes do início das aulas, nos intervalos entre turnos e nos períodos “livres” em que os professores eventualmente encontram um ou outro colega na sala de professores. Esses momentos não são contabilizados formalmente como horas de trabalho e também acabam ocultos. Esses resultados sinalizam que o trabalho docente na escola de educação básica vem passando por impasses, desde questões estruturais da escola na garantia de condições para que possam planejar, organizar e desenvolver aulas que mobilizem os estudantes para as aprendizagens e sua formação geral, até aspectos relacionados à natureza do trabalho docente (trabalho interativo, imaterial, intelectual) que parecem ser desconsideradas pelo sistema.
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