Feedback de AGN em galáxias do Projeto Manga: uma análise da distribuição e cinemática do gás ionizado
Abstract
Com o final do século XX, grandes projetos de levantamento de dados astronômicos tiveram
início, impulsionados pelo desenvolvimento de telescópios potentes. Um desses projetos é o
Sloan Digital Sky Survey (SDSS), que compreende vários subprogramas, como o Mapping Nearby
Galaxies at Apache Point Observatory (MaNGA). Esse projeto pretende mapear 10 mil
galáxias próximas para esclarecer os fenômenos que propiciam a evolução e a formação desses
objetos. O projeto MaNGA utiliza ainda outra novidade do século XXI: a espectroscopia
de campo integral. Este tipo de espectroscopia, diferentemente dos demais, permite que sejam
analisadas regiões específicas do objeto observado. Uma destas regiões é o núcleo galáctico,
que, em algumas situações, apresenta uma grande luminosidade que não pode ser justificada
apenas pelo contínuo estelar. Nestes casos, o núcleo é dito ativo (AGN: do inglês, Active Galactic
Nuclei) e atribui-se sua alta emissão de energia ao processo de acreção de matéria por
um buraco negro supermassivo localizado no centro da galáxia. Dependendo das suas características
físicas e espectrais, um AGN pode ser classificado em vários tipos. As galáxias ativas
que foram observadas pelo MaNGA são, em sua maioria, do tipo LINER e galáxias Seyfert.
O processo de acreção de matéria pode acarretar em feedback de AGN, como outflows de gás
ionizado por exemplo. O feedback é responsável por controlar o crescimento e evolução das
galáxias, interferindo na formação estelar e também na cinemática da galáxia hospedeira em
extensões bastante variadas, que podem alcançar escalas de kiloparsec. Neste trabalho, é analisada
a cinemática de galáxias ativas e não-ativas a fim de detectar outflows de gás ionizado e
estimar suas potências e extensões. Para isso, foi realizado um ajuste espectral com o auxílio do
código GANDALF e elaborou-se perfis cinemáticos, dados em termos de raio efetivo. A amostra
principal é composta por 170 AGN selecionados do projeto MaNGA. Definiu-se também uma
amostra de galáxias de controle, cujas principais propriedades assemelham-se às das galáxias
de núcleo ativo, e subamostras de AGN, baseadas na luminosidade e na morfologia das mesmas.
Através da análise dos perfis globais destas amostras, verifica-se que, em média, os AGN
mais luminosos apresentam velocidades e dispersão de velocidades residuais maiores que as
suas respectivas galáxias de controle em todos os anéis radiais considerados (0.2 ≤ R ≤ 1.0Re).
Além disso, a extensão média dos outflows são menores do que a da região de linhas estreitas
(NLR) dos AGN: enquanto que a extensão dos primeiros corresponde a aproximadamente 40%
do raio efetivo, as últimas alcançam 70%. No entanto, as maiores NLR tendem a apresentar
os outflows mais extensos. Quanto às taxas de ejeção de gás ionizado, os valores variam entre
10−4 e 10−2 M� ano−1. Semelhantemente, a potência cinética também é baixa, indo de 1035
a 1039 erg s−1. Estes resultados indicam que, apesar de serem detectados nas galáxias ativas
da amostra, os outflows de AGN não são potentes a ponto de influenciar na cinemática e na
evolução das suas respectivas galáxias hospedeiras.
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