Fronteiras nas obras de Sidônio Apolinário: disputas e negociações de gauleses com itálicos e germânicos (século V e C)
Resumo
A temática do presente trabalho concentra-se em conflitos e negociações fronteiriços estabelecidos entre a elite galo-romana e povos germânicos presentes na região da Gália do século V EC. Também tratamos de um movimento que engloba crises e ressignificações políticas gaulesas relativas ao governo republicano romano centrado em Ravena e controlado pela nobreza itálica. Para esses estudos, utilizamos o corpus documental de um autor galo-romano que escreveu várias obras no século V EC, Sidônio Apolinário. Sabemos que esse autor nasceu em Lugduno (atual Lyon, França) entre 430/433 e esteve ativo politicamente da década de 450 até sua morte, na década de 480. Durante esse tempo, seguiu uma carreira política ligada à corte do Império Romano do Ocidente, o que lhe proporcionou vários títulos de nobreza, inclusive na esfera eclesiástica, como bispo da Arvérnia. A proximidade entre Sidônio Apolinário e os governos germânicos estabelecidos na Gália de sua época, bem como entre ele e o governo imperial romano, permitiu que em suas obras aparecessem, de forma densa, as relações histórico-sociais estabelecidas entre as diversas elites que buscavam poder no território gaulês. Nossa pesquisa, dentro desse quadro, pretende analisar a lógica das alianças e dos acordos estabelecidos entre a elite galo-romana com o objetivo de perpetuar seu poder na esfera da Gália, quando as crises políticos-militares ocorridas na Itália impediram que as elites dessa península protegessem as fronteiras renanas do Império. Intentamos compreender a forma de funcionamento de identidades culturais com finalidades políticas, tais como a humanitas. Também almejamos entender a lógica das redes de amicitia, atentando-nos para a forma como elas foram utilizadas de acordo com as necessidades e com os interesses de Sidônio Apolinário. Atentar-nos-emos para lógica das identidades cristãs estabelecidas na Gália, bem como para a forma como Sidônio Apolinário utilizou-as em busca de alianças e manutenção de poder e territórios, opondo cristãos arianos e cristãos legais. Buscaremos entender os mecanismos que regeram as representações sidonianas e suas relações de interesse, levando em consideração os elementos retóricos do autor. Diante do que foi apresentado, acreditamos que o trabalho com a documentação sidoniana possa colaborar com o entendimento do processo de transformação de elementos histórico-sociais de seu contexto. Dessa forma, nos inseriremos no complexo debate historiográfico que divide opiniões entre a existência de uma “Queda do Império Romano”, valorizando as rupturas, e entre o pensar do período como um momento de transformações e continuidades.
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