Cuidados à gestante com transtornos mentais: perfil sociodemográfico, rede de atenção e itinerário terapêutico
Resumo
Introdução: Os transtornos mentais constituem um importante problema de saúde pública. No contexto da reforma psiquiátrica, a mudança do modelo preconiza o retorno do usuário para um cuidado no território. Sabendo que as mulheres são mais acometidas destas patologias, a relevância da saúde mental gestacional aos poucos vem sendo clinicamente reconhecida, uma vez que os impactos dos transtornos mentais no período de gravidez e pós-parto não se restringem apenas à saúde e bem-estar materno, mas afetam também a saúde e o desenvolvimento do recém-nascido. Desta forma, evidencia-se a importância da realização de um pré-natal de qualidade, englobando os aspectos biopsicossociais da mulher. Objetivo: Este estudo teve o objetivo geral de analisar o cuidado prestado às gestantes encaminhadas ao Ambulatório de Gestação de Alto Risco (AGAR) em decorrência de transtornos mentais ou uso de álcool e outras drogas. Coleta de dados: A coleta dos dados se deu a partir dos prontuários da rede municipal e HUSM das 12 gestantes encaminhadas ao AGAR no ano de 2018. Resultados e Discussão: Evidenciou-se com o estudo a presença da vulnerabilidade psicossocial e econômica no contexto das gestantes, uma vez que a maioria reside em áreas de elevada privação social. A ideação/tentativa de suicídio apresentou-se como 50% dos encaminhamentos ao AGAR, sendo responsável por três internações durante a gestação após tentativas por abuso de medicamento e automutilação. Acerca do compartilhamento do cuidado sistematizado pela ficha de plano terapêutico, evidenciou-se em apenas um prontuário sua utilização. Verificou- se que 54,5% das gestantes mantiveram o acompanhamento nas suas unidades de referência após as consultas no AGAR, fato que demonstrou a existência de vínculo com o serviço. O itinerário terapêutico das gestantes se mostrou muito limitado, sendo a maioria dos atendimentos realizados pela psiquiatria do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) devido ao acompanhamento concomitante no AGAR. Além disso, evidenciou-se que 66,6% das gestantes mantiveram acompanhamento apenas com Enfermeiros e Médicos, o que demonstra um modelo ainda médico centrado, voltado à manutenção clínica do quadro e da terapêutica medicamentosa.
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: