O significado de ser pai e ser mãe de crianças em famílias em vulnerabilidade social
Resumo
O conceito de parentalidade é usado para definir as funções e os papéis que os pais realizam em
relação aos cuidados e à criação dos filhos. Portanto, a mesma não está associada ao fato de tornar-se
genitor, apenas, mas é construída continuamente, através do exercício de seus papéis e funções
(HOUZEL, 2004). Desta forma, o presente estudo investigou o significado da maternidade e da
paternidade em contextos de vulnerabilidade social, por considerar que tais contextos imprimem
peculiaridades ao exercício da parentalidade. Participaram seis pais e seis mães de crianças com até
doze anos incompletos, os quais encontravam-se cadastrados em um Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS) de um município do interior do Rio Grande do Sul. Os dados foram
coletados através de um Questionário Sociodemográfico e de uma Entrevista Semiestruturada e foram
analisados através da Análise de Conteúdo (BARDIN, 1977). Os resultados encontrados apontaram
uma sobrecarga de tarefas referentes ao papel materno, como a colaboração para com o sustento
financeiro da família, a realização dos afazeres domésticos, a responsabilidade pelos cuidados e
educação dos filhos e ser prestativa às demandas do marido. Desta forma, houve consenso entre os
entrevistados de que a mãe deve ocupar um lugar central na família, incumbindo-se de tarefas como as
citadas anteriormente. Este significado relaciona-se ao sentimento de sobrecarga, vivenciado pelas
mães, uma vez que, através do mesmo, a mãe responsabiliza-se, individualmente, pela realização de
tais tarefas, sem deixar espaço para que o pai assuma determinadas funções que lhe são possíveis de
realizar. Assim, mantém-se cristalizados os papéis de gênero e parentais. Com relação à paternidade,
identificou-se que o pai ainda é identificado como responsável pelo sustento financeiro, sendo uma
figura representativa da autoridade familiar, funções tradicionalmente atribuídas ao papel paterno.
Autoridade esta, que não é vista apenas no sentido de educação dos filhos, mas também como apoio
emocional à mãe e auxílio em momentos de tomada de decisões. Todavia, apesar das questões
tradicionais relacionados ao papel paterno os pais, também, afirmaram participar de outros aspectos da
vida dos filhos, como na educação e ensinamento de valores, nos seus cuidados e proteção e na esfera
afetiva, através da realização de brincadeiras e atividades diversas com os mesmos. Por fim, houve
consenso entre os participantes de que a paternidade ideal consiste em o pai estar presente na rotina
familiar e na vida dos filhos. Ademais, o presente estudo forneceu importantes reflexões acerca do exercício da parentalidade em contextos de vulnerabilidade social, contribuindo para com os
profissionais que atuam junto às políticas públicas brasileiras, no atendimento a famílias, uma vez que
problematizou certas peculiaridades referentes ao significado da maternidade e da paternidade em tais
contextos. Com isso, espera-se aproximar as concepções dos profissionais, as quais são provenientes
do saber técnico-científico, às concepções formadas a partir do conhecimento popular de seus usuários,
para que seja possível lançar um olhar compreensivo sobre as mesmas e, a partir disso, desenvolver
ações críticas e eficazes, que considerem as reais necessidades da população e respeitem as
singularidades do contexto.
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